Curso de Design-Moda realiza seminário sobre moda inclusiva

Imagem: A intenção do Seminário foi despertar criadores e empreendedores para ampliação do mercado voltado para pessoas com deficiência (Foto: Jr. Panela/UFC)Pensar a moda como espaço democrático e de diversidade social foi o objetivo do Seminário Moda Inclusiva, promovido pelo Curso de Design-Moda da Universidade Federal do Ceará. O evento ocorreu nos últimos dias 23 e 24, no Centro de Profissionalização Inclusiva para a Pessoa com Deficiência (CEPID), na Barra do Ceará.

Na programação, o evento contou com debates, rodas de conversa, além de um desfile sensorial, em que cegos tiveram a oportunidade de perceber as modelagens das roupas através no tato, no corpo das modelos. De acordo a Profª Araguacy Filgueiras, do Curso de Design-Moda, a inciativa teve como foco despertar em criadores e empreendedores de moda as atenções para esse segmento, que engloba aproximadamente 25% da população brasileira.

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"É um mercado latente, existe a demanda. Realmente as pessoas com deficiência sentem no dia a dia dificuldades na aquisição de seus produtos. As lojas não têm acessibilidade, as roupas têm alguns detalhes que podem machucar, impedir os movimentos, algumas fibras sintéticas impedem a transpiração adequada. Queremos sensibilizar estudantes, designers, empresários, empreendedores para que vejam esse mercado como possibilidade de ampliação e atendimento a essas pessoas, torná-las satisfeitas e criar produtos que façam com que se sintam bem esteticamente e com todos esses aspectos de conforto", disse.

Um dos destaques do Seminário foi a mesa de abertura, que contou com a presença de Daniela Auler, umas das pioneiras na criação em moda inclusiva no Brasil. Atual coordenadora do projeto Moda Inclusiva da Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência de São Paulo, Daniela ressaltou a necessidade de ampliação de marcas interessadas na criação de moda para esse público.

"Quando começamos nosso estudo, existiam marcas pontuais pelo mundo, sem esse contexto de moda inclusiva, que é de moda democrática para atender todos, tanto pessoas com deficiência quanto as que não têm deficiência. Hoje existem, aproximadamente, 15 marcas voltadas para a moda inclusiva que são e-commerce, ou seja, que atuam através da Internet. A moda tem de ser um local de diversidade. Há 45 milhões de pessoas com deficiência no País, um público que está trabalhando, que tem direito ao lazer, que está fazendo esporte e que é um consumidor, portanto as empresas têm de começar a perceber esse segmento importante", afirmou.

 A bailarina, modelo e paratleta Ana Raquel Freire é uma das consumidoras do mercado de moda inclusiva (Foto: Jr. Panela/UFC)Uma das consumidoras desse mercado de moda inclusiva é a bailarina, modelo e paratleta Ana Raquel Freire, que conferiu o Seminário. Para ela, renovar o guarda-roupa pode, muitas vezes, ser um desafio. "Ainda não há lojas que vendam roupas bem acessíveis, principalmente para quem é tetraplégico. Não tem muita mobilidade, a gente ainda sente essa falta. Às vezes, a gente nem consegue andar direito nas lojas", comentou.

Outro presente no evento foi o modelista industrial Antônio Pinto, que destacou a baixa especialização dos profissionais do mercado da moda cearense nesse campo.

"A modelagem na moda inclusiva ainda não é uma prática exercida. Aqui no Brasil ainda não existem modelistas especializados nessa área, não há uma elaboração dentro da ergonomia, da anatomia, para compreender esses corpos e a necessidade dessa roupa mais adequada, que traduza conforto e respeite a mobilidade. O mercado existe; não existem profissionais preparados para atuar nesse campo", avaliou.

TECNOLOGIA – Inovações tecnológicas para a inclusão de pessoas com deficiência foi uma das temáticas abordadas nas rodas de conversa do Seminário. O aplicativo Leitor de Estilos, que através do código QR Code narra, para pessoas cegas, informações de etiquetas das roupas, foi uma das novidades apresentadas.

"A proposta do aplicativo é que a etiqueta contenha todas as informações da roupa a partir da fala das pessoas. Pesquisas apontam que os cegos conseguem ter bom acesso a essa tecnologia e o QR Code tem baixo custo para a indústria. No aplicativo, a pessoa vai poder acompanhar todas as informações em um conjunto de 10 itens e 4 estilos. Outra grande vantagem é que ele vai poder ser usado tanto por deficientes quanto por pessoas que enxergam, mas que não têm muitos conhecimentos de moda. Isso vai ajudá-las a identificar a roupa e ter informações a respeito de tecido e lavagem", explicou Fernanda Martins, criadora do aplicativo.

Ciência aplicada ao design de roupas para atletas cadeirantes foi o estudo apresentado pela Profª Socorro Araújo, do Curso de Design-Moda da UFC. Segundo a pesquisadora, a criação de roupas específicas para atletas com deficiência ainda é uma realidade distante das federações esportivas brasileiras.

"Para o alto desempenho dos atletas a roupa precisa estar adequada ao tipo de esporte que eles desenvolvem. Deve haver a preocupação com o tipo de material, a pressão colocada pelo excesso de tecido nessa roupa, a transferência de calor, de modo a não comprometer o desempenho desse atleta ou criar uma escara que vai impossibilitar que esse atleta possa desenvolver a atividade esportiva. A roupa mais adequada pode promover esse alto desempenho e, evidentemente, isso vai ser bom para o desporto de modo geral. Infelizmente a gente não percebe essa preocupação por parte das instituições esportivas e das federações", afirmou.

O Seminário contou com apoio dos cursos de moda da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fanor, Estácio e Faculdade Ateneu.

Fonte: Profª Araguacy Filgueiras, do Curso de Design-Moda – fone: 85 3366 9409