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Presidente da Academia Brasileira de Ciências fala sobre valor da ciência

Imagem: Prof. Luiz Davidovich é presidente da Academia Brasileira de Ciências (Foto: Viktor Braga/UFC)Na abertura dos trabalhos da pós-graduação da Universidade Federal do Ceará deste semestre, uma aula sobre a aventura do conhecimento e o valor da ciência para o País. Para guiar os estudantes nessa caminhada, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Prof. Luiz Davidovich, parte de uma pergunta na aula magna proferida no auditório do Centro de Ciências, no último dia 22: afinal, qual o valor da ciência básica? E qual tem sido o valor dela para o País?

O Prof. Davidovich volta no tempo para lembrar a história da pesquisadora Johanna Döbereirer, nascida na antiga Tchecoslováquia e naturalizada brasileira em 1956. Johanna trabalhou durante anos no Laboratório de Microbiologia dos Solos, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Lá, pesquisou a fixação de nitrogênio nas leguminosas tropicais, trabalho que seguia linha oposta aos desenvolvidos nos Estados Unidos, maior produtor mundial de soja da época.

As pesquisas com fixação biológica do nitrogênio (FBN) geraram os fundamentos para o desenvolvimento da tecnologia que permitiu ao Brasil ocupar a liderança nessa área. "Esse processo foi usado pela Empraba para aumentar a produtividade da soja em quatro vezes. Isso, graças ao trabalho de cientistas como Johanna Döbereiner. Pensem na quantidade de recursos que isso trouxe para o Brasil e comparem com os investimentos que foram feitos para o laboratório de Johanna", disse Davidovich.

Veja outras imagens da aula magna no Flickr da UFC

O aumento vertiginoso da produtividade no campo não é o único caso de sucesso da ciência brasileira. O professor cita uma geração de pesquisadores que garantiram à Petrobras reconhecimento internacional na pesquisa e prospecção de petróleo em águas profundas e a Embraer, que nasce dentro do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Lembra ainda o caso da maior empresa de compressores do mundo, a Embraco, nascida no Brasil, a partir de pesquisa nacional, e posteriormente vendida para grupos estrangeiros.

MOTOR DO DESENVOLVIMENTO – Davidovich apresenta tabelas e gráficos para mostrar como a produção da pesquisa brasileira tem evoluído e se distanciado da média da América Latina. "Temos tido, porém, muitos problemas", ressalta. Em mais uma tabela, mostra que o Brasil tem uma média de 710 pesquisadores por milhão de habitantes. Nos países desenvolvidos, a média é de 7.600 pesquisadores. "Dos nossos 200 milhões de habitantes, poucos estão participando da produção científica do País. São milhões de cérebros sendo desperdiçados. É um problema crítico que o Brasil tem que acabar", disse.

Quando se fala em investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil também não está bem, diz o presidente da ABC. O Brasil investe atualmente perto de 1% do PIB, ao passo que a Coreia do Sul, 4%. O pesquisador destaca que em países desenvolvidos a ideia tem sido reforçar o fomento à pesquisa como caminho para o desenvolvimento. Por isso, a União Europeia fez um acordo para chegar a 2020 com 3% de investimento e a China, a 2,5%.

"Vejam que o aumento de investimento que a UE e a China querem fazer não é apesar da crise (econômica), mas por causa da crise", diz Davidovich, frisando a relação de causa e efeito. O pesquisador alude a uma imagem construída pelo ex-presidente americano Barack Obama. Para ele, quando um avião apresenta problemas, joga-se fora bagagem, cadeiras, todo o supérfluo. "Mas não se joga fora o motor", completa.

A AVENTURA DO CONHECIMENTO – Mas se a Ciência é esse motor, a pergunta que fica é se um país deve investir nela apenas quando há aplicações imediatas. Davidovich narra a história de uma apresentação do cientista Michel Faraday, por volta de 1850, a um grupo de autoridades britânicas. À época, Faraday havia descoberto que mexer um fio de cobre em um campo magnético gera corrente elétrica, o que, mais tarde, seria a base dos geradores de eletricidade. Naquele dia, no entanto, o então ministro das Finanças, Willian Gladstone, teria perguntado ao cientista qual o uso prático daquilo. Faraday teria respondido: "Um dia, sir, o senhor irá taxá-lo".

Davidovich completa a resposta, lembrando o trabalho desenvolvido no início do século XX por pesquisadores como Max Planck, Einstein, Einsenberg, Bohr e vários outros que criaram as bases da física quântica. "Eles não tinham nenhuma ideia de possíveis aplicações do que estavam fazendo. De fato, nem se perguntavam isso, tamanha era a paixão por conhecer aspectos extremamente sutis da natureza e contrários à nossa intuição", diz o presidente da ABC.

Em 2000, em um artigo publicado na revista Scientific American para marcar o centenário do primeiro texto de Max Planck sobre física quântica, os pesquisadores Max Tegmark e John Archibald Wheeler estimam que 30% do PIB americano baseie-se em invenções tornadas possíveis a partir da mecânica quântica. "Esse é um grande exemplo de como a ciência funciona. O motor dela é sempre a curiosidade e a paixão pelo conhecimento", afirma Davidovich.

O presidente da ABC diz ainda, apesar disso, que o valor último da ciência não está em eventuais aplicações que possam vir a ter no futuro, mas no modo como ela nos ajuda a conhecer os mistérios do universo e nossa posição nele. "Se pensarmos que a ciência só serve porque vai levar aplicações para a vida cotidiana, não vamos entender o alvoroço que despertou a descoberta recente de ondas gravitacionais, resultante da colisão de dois buracos negros a cerca de 1,2 bilhão de anos".

Davidovich cita outro exemplo: a descoberta de uma queixada humana a 2,2 milhões de anos, a mais antiga já descoberta até agora. "Fico muito entusiasmado com essa descoberta e espero que vocês fiquem também. Estou entusiasmado não porque isso tenha uma aplicação, mas porque isso aumenta nosso conhecimento sobre a história da humanidade e sobre nosso universo", sintetizou.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional – fone: 85 3366 7331

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