Referência internacional, IPREDE completa 35 anos de dedicação ao desenvolvimento da primeira infância
- Quinta, 02 Setembro 2021 08:46
- Última Atualização: Quinta, 19 Mai 2022 15:01
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento de uma pessoa. É na primeira infância, período que vai até os seis anos de idade, que é desenvolvida a maior parte das estruturas e conexões cerebrais. Há 35 anos, o Instituto da Primeira Infância (IPREDE), que abriga ações de extensão da Universidade Federal do Ceará, trabalha para o desenvolvimento saudável de meninos e meninas nessa faixa etária.
Criado em 1986, inicialmente como forma de enfrentamento à desnutrição infantil, o IPREDE expandiu suas ações ao longo dos anos e atualmente promove atividades que visam ao desenvolvimento humano de forma mais ampla, abrangendo aspectos físicos, psíquicos e sociais da criança e da família atendida.
"A primeira infância é o período de formatação do ser humano, é quando ocorre a base de desenvolvimento desse ser em todas as áreas específicas: desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial, afetivo, emocional. Todos têm seu início e seu pico dentro desse período da primeira infância", destaca o presidente do IPREDE, Prof. Sulivan Mota.
De acordo com ele, que também é docente da Faculdade de Medicina da UFC, a instituição atua na formação de crianças que estão na primeira infância, tanto nas competências cognitivas como no vínculo afetivo e emocional. Em média, 950 famílias em situação de vulnerabilidade social são atendidas mensalmente nos projetos desenvolvidos pelo IPREDE, totalizando o atendimento de cerca de 1.350 crianças por mês.
Referência internacional na primeira infância, a organização tem parcerias com instituições como Universidade Federal do Ceará, Universidade de Harvard (Estados Unidos), Universidade de Québec (Canadá) e Academia de Ciências da China em pesquisas ligadas a neurociência e estimulação de crianças. "[O objetivo é que] elas possam, por essa estimulação, formar novas sinapses [cerebrais], garantindo uma qualidade de vida", destaca o Prof. Sulivan.
Com a UFC, são 26 projetos de extensão com a atuação de estudantes voluntários e bolsistas de áreas como saúde, educação, moda, economia e engenharia de alimentos. A pró-reitora de extensão da UFC, Profª Elizabeth Daher, considera "brilhante" a articulação do IPREDE com a comunidade acadêmica "oportunizando um rico aprendizado aos discentes das mais diversas áreas do conhecimento".
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PROJETOS – Além da acolhida à família que chega à instituição, o IPREDE oferece serviços de acompanhamento do crescimento e do estado de saúde das crianças, bem como atendimentos médico, nutricional e de serviço social. Outros projetos também têm como foco a capacitação profissional de mães e responsáveis pelas crianças.
"[São] ações com respaldo científico que promovem o vínculo família-criança, em especial pela figura da mulher [que], através de capacitações profissionais, [possibilita] a promoção da quebra do ciclo da miséria que se perpetua de geração em geração", reforça a Profª Elizabeth.
Um desses projetos é o TransforMaria, de empoderamento de mulheres por meio da culinária. Nele, mães e cuidadoras de crianças assistidas participam de formação básica visando não apenas aprender a cozinhar, mas a se fortalecer individualmente e enquanto grupo. Em 2020, mesmo com as dificuldades causadas pela pandemia, o projeto conseguiu formar 12 mulheres em um período de seis meses.
Dessas, cinco que tinham interesse em trabalhar fora de casa foram contratadas por restaurantes. Em outro projeto, o Vai Maria, 16 mulheres receberam capacitação profissional em corte e costura no ano passado.
No caso das crianças, o programa de desenvolvimento na primeira infância busca promover o crescimento integral dos pequenos. O presidente do IPREDE destaca que, além do aspecto nutricional, a organização tem a preocupação com a criação e o fortalecimento de vínculos familiares.
Assim, as ações desenvolvidas reforçam a qualidade da interação entre cuidador e criança. "A gente trabalha com a primeira infância na formação desse indivíduo tanto nas competências cognitivas como no caráter vinculado aos princípios morais, realçando os valores humanos", aponta.
O programa conta com uma equipe multiprofissional formada por pediatras, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros, que atuam considerando as necessidades individuais de cada criança e levando em conta ainda aspectos sociais, econômicos e culturais dela e da família.
Há três anos, a organização passou a receber também pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). O programa Conecta realiza o acompanhamento de cerca de 600 crianças de até 12 anos de idade encaminhadas pelas unidades de atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Lá, são acompanhadas por uma equipe multidisciplinar que ajuda no desenvolvimento de suas habilidades.
Com a pandemia da covid-19, a organização também promoveu o DOAÇÃO, projeto de fornecimento de alimentos e materiais de higiene a comunidades em situação de vulnerabilidade social em Fortaleza e no interior do Estado. Em três meses, conseguiu arrecadar 600 toneladas de alimentos utilizados para a distribuição de quentinhas em 57 bairros da Capital e 43 municípios do Ceará, com mais de 300 mil pessoas beneficiadas.
DIVISOR DE ÁGUAS – A instituição não muda a vida apenas das famílias atendidas. Quem passa por lá, seja como visitante, seja como colaborador, bolsista ou voluntário, também sai transformado ao ver uma realidade diferente da que vive e ao compreender que é possível tentar melhorá-la. É o caso da estudante Angélica Caitano, do Programa de Pós-Graduação em Economia Rural pela UFC, que considera a passagem pelo IPREDE um "divisor de águas" em sua vida.
A jovem, que atuou como voluntária durante dois anos ministrando aulas de educação financeira para mães de crianças assistidas com auxílio do seu orientador, Prof. Guilherme Irffi, e realizando tabulação de informações socioeconômicas dessas mulheres, garante que a passagem pelo IPREDE a transformou ao deparar com "uma outra realidade da sociedade", de mães que sofrem com vários problemas, como maus-tratos, abusos sexuais e dificuldades financeiras.
"Para mim, [atuar no IPREDE] foi uma realização pessoal mesmo porque, dentro do Curso de Economia, eu sentia falta de trabalhar com a questão social. E, quando eu participei do projeto, eu pude entender um lado da sociedade e também ajudar de alguma forma essas mulheres. Nas aulas de educação financeira, eu pude ver como era deficitário o conhecimento de algumas funções básicas e, nas entrevistas socioeconômicas, eu pude ver outra realidade da sociedade", comenta.
Para o presidente do IPREDE, Prof. Sulivan Mota, o principal propósito da organização é trabalhar da melhor forma possível para o desenvolvimento desses meninos e dessas meninas e suas famílias, fortalecendo os vínculos afetivos. Ele dá um conselho aos pais e às mães com filhos pequenos: "Invista nessa criança, cada vez fortaleça mais seus vínculos com ela, estimule-a, faça parte, seja presente na vida dela. Dedique a ela todo o amor que lhe for possível, pois esse amor é o substrato mais importante que essa criança pode receber na vida", considera.
SAIBA MAIS – O Instituto da Primeira Infância é uma organização social sem fins lucrativos fundada por um grupo de pessoas que busca reduzir o índice de desnutrição infantil que, naquela época, atingia cerca de 30% no Brasil. Está localizado na rua Professor Carlos Lobo, 15, Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, e recebe crianças e suas famílias em situação de vulnerabilidade social encaminhadas pela rede de atenção primária em saúde da capital cearense, dando apoio ao desenvolvimento integral da criança.
Mais informações sobre os projetos desenvolvidos e as formas de doação estão disponíveis no site do instituto.
Fonte: Prof. Sulivan Mota, presidente do IPREDE – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.