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Sexta, 22 Outubro 2021 17:04

"Nem lembro como cheguei no hospital, minha filha. Só sei que sair foi como nascer de novo". As palavras, em voz embargada, foram de Lyttelton Rebelo Fortes, professor aposentado do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, um dentre os mais de 21 milhões de brasileiros acometidos pela covid-19 nestes quase dois anos de pandemia. 

Se o escritor colombiano Gabriel García Márquez dizia que, para ele, a sensação de voltar a nascer advinha de olhar o mar do alto da cidade amuralhada de Cartagena, onde passara a vida inteira, para o Prof. Lyttelton o mesmo sentimento veio quando retornou para junto dos seus, ao receber alta no Hospital Regional Unimed, em Fortaleza. Lá, passou 18 dias internado e precisou despedir-se da esposa, Ivanise dos Santos Fortes, falecida na data de sua saída da unidade de saúde e com quem foi casado por 57 anos.

O Prof. Lyttelton conversou com a equipe da UFC Informa após comparecer à Reitoria, nessa quinta-feira (21), para agradecer pessoalmente à administração superior da Universidade a cessão de um capacete Elmo para uso em seu protocolo de tratamento. O equipamento de respiração assistida foi desenvolvido por meio de convênio entre UFC, Governo do Estado do Ceará, Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) e Esmaltec. 

Participaram da audiência o reitor, Prof. Cândido Albuquerque; a Profª Nadja Dutra, docente do Curso de Engenharia Civil e coordenadora de Extensão do Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra; o assessor do Gabinete do Reitor e docente aposentado do Curso de Engenharia Civil, Prof. Ademar Gondim, além do Prof. Lyttelton e seu filho, Rômulo Fortes.

Aposentado desde 1997, o professor é mestre em Engenharia Civil – Edificações e assumiu durante sua carreira funcional disciplinas caras aos cursos do Centro de Tecnologia, como Desenho à Mão Livre, Desenho Técnico para Engenharia, Estradas e Transportes e Ferrovias e Terraplenagem. Também trabalhou por longo período na Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e seguiu contribuindo, já aposentado, com o Escritório de Tecnologia Social (ETECS) do CT-UFC.

O docente foi internado no dia 12 de março deste ano, com sintomas moderados de covid-19, que evoluíram rapidamente para um quadro mais crítico. Até então, havia sido imunizado apenas com a primeira dose da vacina – a segunda só veio após a alta, já em abril. "Minha neta Maria Clara, que é aluna de medicina na UNIFOR, já tinha ouvido falar do Elmo nas aulas. Foi aí que minha colega Nadja e meu filho Rômulo resolveram procurar a UFC para conseguir o capacete, que foi cedido", relembrou. O auxílio chegou quando se encontrava em uma fase delicada do tratamento, porém foi decisivo para a reação. "Não lembro de quase nada, mas quando recobrei a consciência ainda estava em uso do Elmo. O que posso dizer é o que a equipe médica me passou: ainda é difícil entender como me salvei. Por isso, vi-me na obrigação de vir conhecer o reitor e agradecer à Universidade", explicou o professor de engenharia.

O pós-covid não tem sido uma rotina fácil para o professor, conhecido pela simpatia e vitalidade. O período de internação, além da saudosa esposa, levou-lhe também cerca de 12 quilos de peso corporal e rendeu dois meses de tratamento domiciliar contínuo com cuidadores, até a recuperação das capacidades. "Fiz quatro meses de fisioterapia pulmonar com BiPAP (respirador mecânico), três vezes por semana. Ainda hoje faço sessões mais espaçadas. A memória também foi afetada, embora esteja melhorando. No geral, estou evoluindo e vou até voltar aos exercícios na academia na próxima semana", diz Lyttelton, cuja saúde já permitirá assumir um novo desafio em breve: ser empossado presidente da Academia Cearense de Engenharia (ACE).

"Fica meu agradecimento ao Prof. Cândido Albuquerque, à minha amiga Profª Nadja e aos meus quatro filhos e nove netos, que me deram a melhor cobertura possível quando precisei. E também aos meus colegas de ACE, que nunca deixaram de ligar, mandar mensagens, buscar informações sobre meu estado de saúde", disse. Além de expressar gratidão pela vida e pela rede de apoio que encontrou, ele finaliza: "Até me emociona admitir, mas renasci de fato".

TORCIDA PELA REABILITAÇÃO – O reitor, que não conhecia o professor aposentado, disse ter sido um prazer receber no Gabinete Lyttelton Fortes, "um símbolo de resistência e alegria", que carrega a história viva do Curso de Engenharia Civil. "Quando eu soube que ele estava internado e que a situação estava se complicando, disponibilizei imediatamente um equipamento da cota de Elmos que foi reservada para atender à comunidade acadêmica. Não havia mais exemplares disponíveis no mercado devido à alta demanda. Enviamos para o hospital em que ele estava e, segundo ele mesmo relatou, foi algo importantíssimo para sua reabilitação", afirmou o Prof. Cândido Albuquerque.

A Profª Nadja Dutra, que também participou do encontro na Reitoria ontem (21), ressaltou a contribuição do Prof. Lyttelton ao curso de origem. "Desde muito tempo, a questão do transporte ferroviário é pouco abordada na formação. E, para ser um bom engenheiro civil, o exercício da engenharia é tão importante quanto a pesquisa e o conhecimento acadêmico. O Prof. Lyttelton trazia isso, pela sua prática de décadas, e transferiu esse saber aos alunos que passaram pelo curso", reconheceu.

"Foi uma fase difícil, até mesmo pela idade. Quando ele se internou, fiz essa ponte com a Reitoria, e o Prof. Cândido prontamente atendeu ao nosso pedido pelo Elmo, que de fato salvou a vida dele", disse a coordenadora de Extensão, acrescentando ser o colega de curso "uma pessoa muito determinada e forte, como o próprio nome já diz".

Fonte: Gabinete do Reitor – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.