Procurar no portal

Palestra do ministro Silvio Almeida, apresentações de trabalhos e atrações artísticas são destaques no segundo dia dos EU 2023

Na palestra mais aguardada dos Encontros Universitários (EU) da Universidade Federal do Ceará, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, abordou uma série de questões delicadas que permeiam a realidade social e política brasileira. De acordo com o ministro, que é também advogado e professor universitário, o Brasil é historicamente “um país que odeia direitos humanos” e, por isso, torna-se imprescindível que a discussão para avançar nessa pauta seja sempre associada a uma estratégia de comunicação, uma vez que há uma “batalha ideológica” em torno do tema.

Intitulada “Incluir para educar, educar para incluir”, a palestra ocorreu nesta quinta-feira (9), no segundo dia dos EU 2023. Inicialmente, seria realizada no Auditório Ícaro Moreira, do Centro de Ciências. Porém, devido à grande quantidade de pessoas, o evento foi transferido para o Palco Mix, ao ar livre.

Imagem: ministro Silvio Almeida discursa

“Toda política de direitos humanos também é uma política de comunicação. Precisamos entender isso, porque a nossa disputa no campo dos direitos humanos – e esse é um dos pontos mais importantes – é uma disputa ideológica. Precisamos disputar a ideologia. O Brasil é um país que, infelizmente, odeia os direitos humanos. E como odeia os direitos humanos, odeia os defensores dos direitos humanos. E odeia, portanto, as pessoas que mais precisam dos direitos humanos”, disse o ministro.

Assim, segundo ele, gera-se um fenômeno no qual mesmo pessoas socialmente vulneráveis acabam endossando discursos contrários à defesa dos direitos humanos. É nesse cenário que a comunicação passa a ser um instrumento fundamental para elucidar determinadas impressões.

“Precisamos mostrar para as pessoas no campo, na prática, o que significa defender direitos humanos. O maior programa de direitos humanos do Brasil e que mais deu certo foi o Sistema Único de Saúde [SUS]. Fazer discurso contra os direitos humanos é fazer discurso contra a saúde, contra as políticas de combate à fome e contra as políticas de acesso à universidade, porque o direito à educação é um direito humano fundamental”, exemplificou.

Veja mais imagens da palestra no Flickr da UFC

PILARES E EIXOS CONCEITUAIS – Almeida discorreu também sobre alguns projetos e ações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Segundo ele, a política de direitos humanos é feita em torno de quatro pilares fundamentais: memória, verdade, justiça/reparação e não repetição. “Estamos tentando conectar a política de direitos humanos com as grandes questões que movimentam o cotidiano do povo brasileiro”, afirmou.

O ministro ponderou, contudo, que isso não quer dizer que os aspectos conceituais sejam menos importantes. “É preciso estudar, é preciso fazer teoria. E não existe teoria sem prática política que a sustente, nem existe prática política sem uma teoria que possa fazer com que a prática política seja, de fato, transformadora.” De acordo com ele, são também quatro os eixos conceituais da pasta atualmente: educação em direitos humanos, proteção e defesa dos direitos humanos, cidadania e comunicação. Almeida citou ainda que nas próximas semanas o ministério vai lançar dois planos nacionais de inclusão, um deles voltado a pessoas com deficiência e outro a pessoas em situação de rua.

Imagem: Público dos Encontros Universitários lotou a praça em frente ao Palco Mix para conferir a palestra

A palestra contou com a participação do reitor da UFC, Custódio Almeida; da vice-reitora Diana Azevedo; da secretária da Igualdade Racial do Ceará, Zelma Madeira; do ativista social e presidente da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé; e de João do Cumbe, representante do movimento quilombola.

Em sua fala, Zelma Madeira destacou a educação como “forma garantidora de mobilidade social” e salientou que há uma série de lutas que continuam sendo travadas ao longo dos anos na educação. Como exemplo, citou que a Lei de Cotas foi fruto da mobilização de movimentos sociais e pode ser considerada “uma política pública bem-sucedida, porque impactou, mexeu no perfil discente das universidades”.

Preto Zezé falou sobre a necessidade das universidades em geral e da UFC em específico estarem mais próximas das periferias. “Temos que democratizar o conhecimento. Aí a parceria com a Universidade é fundamental, porque aqui tem cursos de produção do conhecimento em várias áreas. A favela vai mudar a faceta da universidade brasileira”, pontuou. João do Cumbe, por sua vez, sublinhou a importância de políticas afirmativas para que grupos minoritários ocupem cada vez mais os espaços acadêmicos.

Confira a palestra completa:

ACORDO DE COOPERAÇÃO E PROGRAMA DE EQUIDADE – Durante o evento foi assinado um acordo de cooperação técnica entre a UFC e a Secretaria da Igualdade Racial (SEIR) do Ceará para desenvolver ações conjuntas destinadas à promoção do letramento racial e do combate ao racismo, voltadas a servidores da Universidade e da rede pública de educação do Estado.

O reitor Custódio Almeida anunciou também a criação do programa estratégico de Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) na UFC. A medida tem foco no “fomento de políticas, práticas e sistemas inovadores que assegurem uma cultura organizacional inclusiva e equitativa, promovendo a diversidade e a igualdade no meio ambiente de trabalho” da Instituição. Além disso, o reitor falou sobre a assinatura de uma portaria de retomada da Comissão de Direitos Humanos da UFC, com nova composição.

Imagem: assinatura

MAIS DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO – Mais cedo, no Auditório Ícaro Moreira, a programação de palestras teve início com o tema “Ética e integridade em pesquisa”, apresentado pela Profª Rosemary Shinkai, da Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora na área de odontologia, a docente também trabalha com questões de divulgação de ciência e ética em publicações científicas.

“Quando falamos sobre integridade e ética no ambiente acadêmico, falamos de uma cultura no ambiente como um todo, que vai envolver ensino, pesquisa, extensão e também a gestão”, aponta a professora. “Estamos falando de como vamos transferir valores éticos de vida que nós temos para boas práticas de rotina, no dia a dia dentro da sala de aula, dos laboratórios, das clínicas e das nossas relações interpessoais.”

Reforçando a necessidade de fortalecer a ideia de integridade e ética também por meios institucionais, a pesquisadora apontou a UFC como um bom exemplo. “Vocês têm uma política institucional de longo prazo e que abrange diversos setores da Universidade, tendo essa visão muito ampla de integridade e ética, não só na pesquisa ou ensino. É a Universidade como um todo”, afirmou.

Imagem: palestra no Centro de Ciências

APRESENTAÇÕES – Já no Centro de Convivência do Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra, em Fortaleza, a grande troca de experiências acadêmicas já vivenciada no primeiro dia do evento continuou. O bloco, lotado, recebeu novamente apresentações orais e de pôsteres dos estudantes e bolsistas da Universidade.

Nayara Braz, estudante do oitavo semestre de Ciências Sociais, que apresentou trabalho sobre a vivência de mulheres negras cotistas na UFC, conta que “tomou um susto” quando entrou no salão onde ocorrem as apresentações de pôsteres, ao notar a quantidade de apresentações. “São muitas áreas, muitas informações, muitas coisas que saltam aos olhos”, destacou.

Bolsista de Iniciação Científica, Nayara já havia participado dos Encontros outras três vezes, mas essa foi a sua primeira vez no modelo presencial. “Quando tive a experiência dos Encontros on-line, gostei muito, mas foi algo menor, com as apresentações dentro da sala com as pessoas que estavam lá. As pessoas não imaginavam o que estava acontecendo nas outras salas. Aqui a gente pode olhar, ter conversas mais leves nos corredores”, aponta.

Imagem: sala com estudante apresentando trabalho

A possibilidade de encontrar pesquisadores e bolsistas de áreas tão distintas da sua é algo que também foi fator importante para Mariana Araújo, estudante do quarto semestre de Física e também bolsista de Iniciação Científica. Sua apresentação pode ser sobre a avaliação de condições de vida em exoplanetas, mas poder trocar experiências com campos de estudo como zootecnia ou biologia chamou a atenção da estudante.

“Tem muita gente apresentando muitas coisas diferentes. O legal dos Encontros Universitários é ter essa pluralidade. Então, enquanto eu estou apresentando aqui algo de física, tem alguém do meu lado apresentando algo de biologia, na frente alguém da química”, diz.

Veja imagens da manhã do segundo dia de EU 2023 no Flickr da UFC

Além das apresentações orais, de pôsteres e de pitches, das rodas de conversa e das exposições de projetos, a palestra “Desafios da formação de professores frente aos retrocessos das políticas educacionais neoliberais” foi um dos destaques da tarde do segundo dia dos EU 2023. As professoras Vanessa Jakimiu, da Faculdade de Educação, e Denise Parra, do Instituto de Cultura e Arte, expuseram questões acerca do panorama educacional brasileiro, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a reforma do ensino médio e a oferta de disciplinas sobre artes e cultura nas escolas.

Os estudantes também preencheram os assentos do Auditório Ícaro Moreira, no Centro de Ciências, para a assistir à palestra “Quero fazer intercâmbio na França. O que preciso saber?”, com Leticia Pontes Vieira, da agência Campus France Brasil. Na ocasião, que contou com a presença da vice-reitora da UFC, Profª Diana Azevedo, a palestrante apresentou dados educacionais do ensino superior na França, aspectos culturais e possibilidades de candidatura para estudo no país. Segundo a conferencista, a França tem sido o país mais procurado pelos estudantes da UFC.

Imagem: estudante Mainara Lima segura obra de arte que apresentou nos Encontros Universitários

Durante os três dias de programação, o Laboratório de Experiência Digital (LED) expõe três estandes de projetos que desenvolve: Artifícios Digitais, Fotografia Tátil e Design Computacional. Mainara Lima, bolsista do projeto Fotografia Tátil, explica que as imagens expostas nos EU, reproduzidas em alto relevo sobre placas coloridas de madeira tipo MDF, são obras de exposições do Museu de Arte da UFC (MAUC). O objetivo é torná-las acessíveis a pessoas com deficiência visual total ou baixa visão. “Nós analisamos a obra, observamos quais objetos estão atrás e à frente e planejamos as camadas para que as pessoas que têm deficiência visual possam tatear e compreender a obra através das peças.”

Para a estudante Evellyn Gislene de Castro, do Curso de Jornalismo, o nervosismo para a apresentação oral do trabalho que desenvolve na Pró-Reitoria de Extensão (PREX) foi superado pela animação para participar das atividades e conhecer outros projetos. “Eu assisti a apresentações orais hoje de manhã e foi um momento muito legal, porque eu vi projetos de outras pessoas que também falavam de mídias e redes sociais assim como eu. É um acalento para o universitário ver que várias outras pessoas da Universidade, de outros cursos, estão fazendo coisas parecidas. O Palco Mix também é incrível, eu adoro ver a galera fazendo as apresentações artísticas”, destacou.

Veja imagens da tarde do segundo dia de EU 2023 no Flickr da UFC

INTERIOR – No Campus da UFC em Crateús, o segundo dia dos Encontros Universitários 2023 seguiu com a participação entusiasmada da comunidade acadêmica, que se reuniu para compartilhar avanços em ensino, pesquisa e extensão na região do Sertão de Crateús.

Estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária, Rafael Pereira de Sousa foi um dos que apresentaram projeto nesta quinta-feira (9). Em sua terceira participação nos EU, ele trouxe o trabalho “Ecoativismo na era digital: avaliação do impacto das publicações sobre mudanças climáticas nas redes sociais do projeto de educação ambiental intitulado ‘Ambiente Palpável’”, exibido na categoria pôster. Sousa destacou a importância dos Encontros Universitários como uma oportunidade de materializar e apresentar resultados obtidos ao longo do semestre, em diversos projetos, tanto para o público da Universidade como para a sociedade em geral.

Imagem: pessoas posam para foto

O tema da inteligência artificial (IA) foi destaque entre as palestras do segundo dia de EU no Campus de Itapajé. Docente do Curso de Ciência de Dados, o Prof. Alyson Bezerra falou sobre "O uso da inteligência artificial em projetos de desenvolvimento de software”, enquanto o analista Max Eduardo, servidor do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), discorreu sobre segurança e IA em órgãos públicos e empresas privadas. A programação contou ainda com sessão de apresentações de iniciação acadêmica e de iniciação à docência.

Os Encontros Universitários seguem nesta sexta-feira (10). Veja o livro com a programação geral do evento. (sujeita a atualizações).

Fonte: Coordenadoria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Endereço

Av. da Universidade, 2853 - Benfica, Fortaleza - CE, CEP 60020-181 - Ver mapaFone: +55 (85) 3366 7300