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Fim de ciclo? Última noite de colação em Fortaleza tem mensagens sobre incompletude do conhecimento e formação humana

Uma “floresta densa, com mata fechada, a ser desbravada a cada novo dia”. As palavras escolhidas pela recém-formada em Psicologia Wingrid Albuquerque Brandão para descrever seu percurso na Universidade Federal do Ceará (UFC) não são mera força de expressão. Acometida por cegueira e autodenominada pessoa “não enxergante”, Wingrid ingressou na UFC, seis anos atrás, em meio à total escuridão. Na última quinta-feira (17), vestida de beca, ao lado de amigos que seguraram sua mão na caminhada pela densa floresta, ela foi um dos símbolos da resistência e da pluralidade que marcaram a última noite do ciclo de colações de grau da Instituição em Fortaleza.

Imagem: A formada em Psicologia Wingrid Albuquerque, autodenominada "não enxergante", contou com apoio de pessoas como Lygia Bessa (à esq.) e Maria Antônia Nunes ao longo da jornada na UFC (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Pessoas com deficiência, indígenas, negras, brancas, transsexuais, jovens, idosas. Um total de 865 histórias de vida estiveram na Concha Acústica da UFC para celebrar o fim de um ciclo. Ou, como alertou o reitor Custódio Almeida em seu discurso, para celebrar a “incompletude”, a “consciência de inacabamento”, que são próprias da busca constante pelo conhecimento.

Veja fotos da última noite da colação de grau no Flickr da UFC

Por conhecimento, entenda-se não somente o domínio de teorias ou a apreensão de práticas profissionais, mas também a habilidade humana de lidar com as diferenças. Para Wingrid, que chegou a sofrer preconceitos e até pensou em desistir do Curso de Psicologia, a humanidade que encontrou em algumas pessoas de dentro e de fora a Universidade – como a “irmã de coração” Maria Antônia Nunes e a amiga Lygia Maria Bessa, que a acompanharam durante a jornada – foi essencial em sua graduação.

“Eu gostaria de que cada pessoa pudesse enxergar. Não no sentido de ver com os olhos, mas no sentido de perceber cada ser humano com que se depara. A educação, principalmente com o advento alarmante da inteligência artificial, vem com o propósito de descoberta do ser humano. A gente precisa transcender nossa humanidade”, afirmou.

FORMAÇÃO INDÍGENA – Na noite de quinta-feira, colaram grau estudantes dos cursos do Centro de Humanidades (CH), Faculdade de Direito (FADIR), Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC) e Faculdade de Educação (FACED).

Lá estava a indígena e professora Laudeci Farias, da etnia Gavião, que agora, com o diploma do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Kuaba, pretende voltar à sua aldeia no município de Monsenhor Tabosa para aplicar o conhecimento aprimorado na UFC com os curumins da região. “Foram muitas lutas pra chegar até aqui, muitas idas e vindas, muitas aulas nas aldeias da região metropolitana”, lembrou.

Imagem: Aline Tapeba e Laudeci Farias, egressas da Licenciatura Intercultural Indígena Kuaba (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Aline Tapeba, moradora de Caucaia e também recém-formada na Licenciatura Intercultural, relatou que essa graduação vem suprir uma grande carência na formação de professores indígenas no Ceará. “O aluno indígena tem particularidades em relação à cultura, à vivência, ao convívio em sociedade. Isso exige uma formação específica dos professores”, explicou.

GRATIDÃO E NERVOSISMO – A festa de colação de grau também foi marcada pela emoção. Quando citou a presença da mãe na plateia, o orador discente da cerimônia, o agora formado em Pedagogia Victor Mota Figueiredo, embargou a voz e segurou as lágrimas. Para ele, a palavra da noite foi “gratidão”. Ele também lembrou que a passagem pela Universidade é sinônimo não apenas de conhecimento acadêmico: “A UFC não foi apenas uma instituição de ensino, mas um espaço onde pudemos descobrir nossas paixões, desafiar nossas próprias limitações e desenvolver habilidades que vão além da sala de aula”, disse.

Agora, segundo Victor, é momento de olhar para frente. Trata-se “do começo de uma jornada que continua a se desdobrar”, referindo-se ao início da etapa profissional. E projetou: “Que possamos seguir adiante com coragem, determinação e compaixão, fazendo a diferença nesse mundão que nos aguarda”.

Imagem: Victor Brandão, do Curso de Pedagogia, foi o orador discente (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Em nome dos docentes da UFC, a mensagem foi dada pelo Prof. Áurio Lúcio Leocádio, da FEAAC. Ele não escondeu o nervosismo de falar perante a Concha Acústica lotada: “pernas bambas”, descreveu. Mas sua fala passou uma mensagem segura, aplaudida por todos. Citando trechos de uma música chamada “Cartão postal”, da banda de rock Apanhador Só, ele alertou: “A carne dura menos que qualquer madeira”.

O verso foi um convite à reflexão sobre juventude, tempo e, mais uma vez, sobre o saber. “A carne dura pouco, a juventude menos ainda. Posso até ser mais cruel com vocês ao lembrar que as cadeiras em que vocês sentaram na UFC vão durar mais que vocês, que todos nós. Porém, aqui na Universidade temos a possibilidade de produzir algo que dura mais que a madeira: o conhecimento”.

SAUDADE – Se há algo que dura tanto quanto o conhecimento é a amizade. E é dela que Werbster Feitosa, Claudiana Bonfim e Leandra Lira, agora egressos do Curso de Ciências Atuariais, sentirão mais saudades. O convívio diário continuará entre Werbster e Claudiana – os dois trabalham juntos e se formaram juntos na última quinta-feira.

Imagem: Leandra, Werbster e Claudiana ingressaram na UFC em períodos diferentes, mas formaram-se juntos (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Agora, as noites de estudo, os “perrengues” e as atividades acadêmicas darão lugar a novos e festivos encontros fora da UFC: “Com certeza, o que mais vou sentir falta é a convivência com meu grupo de amigos. Querendo ou não, a Universidade era o momento que a gente tinha pra ficar junto”, afirmou Werbster. Claudiana complementou: “A gente faz muitos colegas, mas também faz amigos de verdade".

NOVA BOLSA NA UFC – A cerimônia foi finalizada pelo discurso do reitor da UFC, Prof. Custódio Almeida, que destacou a superação de desafios e a resistência dos que puderam concluir os diferentes ciclos de formação educacional até a conquista do diploma. Ele lembrou que diversos fatores levam à evasão, mas elencou um em específico: a ausência do Estado.

Reforçando a importância da assistência estudantil na permanência dos alunos na UFC, anunciou ao público uma medida que havia sido formalizada poucas horas antes da colação: a partir da próxima matrícula de novos alunos via Sistema de Seleção Unificada (SISU), alunos de baixa renda terão direito ao Auxílio Ingressante, no valor de R$ 500, e isenção de almoço e jantar no Restaurante Universitário (RU), ambos concedidos de forma automática.

O reitor também anunciou o aumento do valor do Auxílio-Creche, que passará R$ 281 para R$ 400. Crianças até 6 anos de idade, filhas de discentes, também terão direito também à alimentação gratuita no Restaurante Universitário.

PRÓXIMAS COLAÇÕES – A cerimônia de colação de grau dos concludentes do Curso de Medicina, da Faculdade de Medicina (FAMED), em Fortaleza, será realizada no dia 29 de janeiro. Antes, o ciclo de colações de grau da UFC segue para os campi do Interior, conforme o seguinte calendário:

Dia 22 de janeiro: Campus de Quixadá
Dia 23 de janeiro: Campus de Russas
Dia 25 de janeiro: Campus de Sobral
Dia 26 de janeiro: Campus de Crateús
Dia 20 de fevereiro: Curso de Medicina – Campus da UFC em Sobral

Fonte: Gabinete da PROGRAD – fone: (85) 3366 9498; e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. / Cerimonial da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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