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Pesquisadores da UFC desenvolvem software de neurofeedback para otimizar desempenho de atletas

Um sistema de processamento de sinais do cérebro, desenvolvido por pesquisadores do Biomedical Data Analytics (BioData), da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi utilizado no processo de preparação de atletas da Seleção Brasileira de Karatê. Os karatecas estiveram durante uma semana no Centro de Treinamento de Karatê do Brasil, no município de Caucaia (CE), para se preparar para o Campeonato Mundial, na Itália, para categorias de base, que ocorre esta semana.

Imagem: Foto de atleta de Karatê, sentado, de costas, com vários fios presos ao couro cabeludo (Foto: Letícia Clemente/ Divulgação)

O sistema também foi aplicado na equipe que disputará o mundial de seniores em novembro, na Espanha. Para ambas as equipes, foi produzida uma avaliação funcional, que mapeia o perfil de cada atleta em aspectos como atenção, concentração, controle emocional e inibitório, gerando relatórios.

O trabalho faz parte de uma técnica chamada de neurofeedback, tratamento desenvolvido para otimizar aspectos do funcionamento cerebral. A técnica consiste na captação das ondas cerebrais por meio de um eletroencefalograma comum, com mapeamento dos sinais para identificar como certas situações ou sentimento são processados pelo cérebro do atleta. 

“Neurofeedback hoje é uma das ferramentas mais modernas usada por grandes times do mundo para o desenvolvimento de performance. Os benefícios são inúmeros, como o controle de ansiedade, aumento do tempo de reação, melhor tomada de decisão e melhorias no sono, fatores esses essenciais no esporte e, mais precisamente, no karatê”, diz Leticia Clemente, psicóloga da Confederação Brasileira de Karatê.

“No karatê, temos atletas que competem kata, luta contra adversários imaginários, com movimentos predeterminados que demandam autoconcentração, e kumite, luta entre dois atletas que buscam pontuar o mais rápido possível dentro de um período de tempo, demandando tempo de reação e boa tomada de decisão. Portanto, nesse esporte, são exigidas essas habilidades, e, quanto mais as estimulamos, potencializamos a performance como um todo”, completa a profissional.

O psicólogo cearense Paulo Nascimento, especialista em neurofeedback e que foi chamado pela Confederação para apoiar o trabalho, explica que, uma vez realizado o diagnóstico, é possível alterar o funcionamento do cérebro para reforçar aspectos como a concentração ou o controle emocional por meio de neuromodulação.

Imagem: Atletas e comissão técnica da Seleção Brasileira de Karatê (Foto: Confederação Brasileira de Karatê/Divulgação)

O tratamento é feito por estimulação visual. Nele, o paciente é submetido a luzes e deve reagir a elas, trabalhando e reforçando áreas neurológicas que têm relação com o aspecto a ser trabalhado. “São realizados protocolos de treinamento para melhorar o potencial do atleta”, diz o psicólogo. 

É como se a mente humana fosse a uma academia. A equipe precisa ter um diagnóstico completo da pessoa para poder trabalhar os músculos  ou, no caso, os neurônios – certos por meio de repetição. É esse “exercício neurológico”, direcionado às áreas certas, que melhora o desempenho dos atletas.

Segundo Paulo Nascimento, no caso da seleção de karatê, não foi possível realizar essa segunda parte do trabalho porque eles passaram menos de uma semana no Centro de Treinamento, quando seria necessário pelo menos um mês. O diagnóstico realizado, no entanto, poderá servir de base para trabalhos futuros.

Imagem: Em primeiro plano, psicólogo em frente a um computador, acompanhando gráfico de um eletro. Ao fundo, atleta com eletrodos conectados à cabeça (Foto: Letícia Clemente/Divulgação) DIFERENCIAL DA UFCO neurofeedback já é utilizado há algum tempo no meio esportivo. No Brasil, um dos primeiros times de futebol a utilizá-lo foi justamente o Fortaleza Esporte Clube, em 2021. Com apoio de Nascimento, os psicólogos do clube trabalharam aspectos como estresse, ansiedade, depressão e insônia, que podem afetar o rendimento dos atletas. 

Mas se a técnica já é conhecida, qual a inovação da UFC? Justamente o desenvolvimento de um software de processamento dos sinais cerebrais, como explica o Prof. Victor Hugo Albuquerque, líder do grupo de pesquisa BioData. O software do BioData se vale de inteligência artificial integrada aos eletrodos de eletroencefalograma para identificar os padrões e otimizar os resultados pretendidos.

“Nosso sistema não é comercial e consegue se ajustar de acordo com cada atleta. É um software adaptativo por isso, e vai se moldando de acordo com o cérebro do usuário”, explica o pesquisador. Isso permite modelar o diagnóstico de acordo com a expectativa dos especialistas que estiverem aplicando o exame.

O pesquisador diz que a técnica pode gerar melhoras expressivas não apenas no meio esportivo. “Além do treinamento de atletas, vale também para pessoas com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, burnout, depressão... Tem muito impacto na vida das pessoas”, relata.

Fonte: Prof. Victor Hugo Albuquerque – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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