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Colação de grau no Campus de Russas: a Universidade como possibilidade de saúde em um mundo doente

Para Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que viveu no século XIX, é nos momentos de doença que se pode vislumbrar uma “grande saúde”. Ser saudável – para ele que conviveu com enfermidades durante boa parte da vida – não se tratava de nunca ficar doente, mas sim de descobrir na doença uma forma de revigoramento do espírito e das forças vitais, dando à vida mais sentido e intensidade. A cerimônia de colação de grau do Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Russas, realizada na noite de terça-feira (12), pode ser entendida assim, como um respiro altivo e forte de afirmação da vida em meio à doença.

Um caso que ilustra bem esse momento de superação é o de Anne Mikaelly Barreto de Abreu, concludente de Ciência da Computação. As dificuldades impostas pela pandemia de covid-19, sobretudo a impossibilidade de interações sociais presenciais, causaram danos profundos à estudante, quando ela ainda estava no início da trajetória na Universidade.

Imagem: mulher jovem de pele branca vestindo beca de formatura ao lado de homem jovem vestindo terno preto

REERGUER-SE – “Isso me fez ficar ainda mais retraída, com mais dificuldade de socializar. Tive momentos depressivos e precisei fazer várias consultas para poder me reerguer. E, graças a Deus, hoje a gente está aqui. A sensação é de alívio, como se eu tivesse vencido mesmo a batalha”, celebra. Anne disse que, durante a cerimônia, lembrou e sentiu fortemente a presença da avó, dona Velma, sua “segunda mãe” e grande incentivadora. “Seria um momento muito importante, e eu sei que ela está lá de cima me vendo, porque para ela seria uma conquista e tanto”, compartilha, com saudade e emoção.

As adversidades da pandemia foram a primeira coisa citada por João Pedro Freitas da Silva, concludente de Engenharia de Software, quando perguntado sobre seu percurso ao longo dos anos de graduação. “Estou muito feliz de poder me formar. Foi meio convoluta [enrolada] essa formatura, por causa da pandemia. A gente precisou passar por aulas on-line, essas coisas assim. Foi meio difícil pra eu arrumar estágio também, porque as empresas fecharam na pandemia. Mas estou feliz que, depois de muito esforço, no final deu certo”, vibra o novo profissional, que agora deve voltar para sua cidade, Limoeiro do Norte, onde pretende desenvolver seu trabalho e talvez abrir sua própria empresa, na área de desenvolvimento de jogos.

Imagem: homem jovem de pele branca vestindo beca abraçado com senhora vestindo roupa branca

UM SONHO – Com exceção de uma pequena parcela da sociedade, todo mundo enfrenta dificuldades na vida. As mulheres enfrentam mais. As mulheres pobres, mais ainda. As mulheres pobres e negras, então, constituem, segundo as estatísticas, um dos grupos mais vulneráveis em nosso País. Mas tem gente que, por meio da educação, consegue mudar o roteiro de uma vida. Por isso, vai ter mulher negra engenheira, sim! Bruna Rafaela Araújo Lima, concludente de Engenharia Mecânica, veio de Fortaleza para estudar em Russas, pois tinha um sonho.

Veja outras imagens da solenidade no Flickr da UFC

“Tive que me mudar, vir pra cá e enfrentei desafios econômicos também. O que me motivou foi nunca desistir do meu sonho. E é difícil ter mulheres nessa área de Engenharia Mecânica, assumindo o papel de engenheira. E a Universidade me apoiou. Eu fui beneficiária do Auxílio-Moradia e por conta dele eu estou aqui hoje. Isso é muito gratificante”, comemora Bruna, que já está trabalhando em sua área de formação e diz que “outras portas estão se abrindo”.

Imagem: mulher jovem de pele negra vestindo beca abraçada de duas mulheres de pele negra

CONSTRUIR E CONSTRUIR-SE – Em seu discurso em nome dos 57 estudantes que colaram grau na noite, o orador Luís Felipe Pereira Garcia, da Engenharia de Software, citou um trecho do poema “Operário em construção”, de Vinicius de Moraes, para ilustrar o processo de transformação que os estudantes atravessam durante a graduação. “Mas ele desconhecia/ Esse fato extraordinário:/ Que o operário faz a coisa/ E a coisa faz o operário”, diz o poema.

“Podemos relacionar esse pequeno trecho com o processo de construção da nossa educação. O que construímos acaba moldando nossa identidade, habilidade e percepção de mundo. E, ao construir algo, nós também somos construídos e transformados pelo processo”, disse Luís Felipe. E, para essa turma, tal construção passa necessariamente pela pandemia e pelos reencontros que vieram depois dela.

Imagem: homem jovem de pele parda vestindo beca está em púlpito discursando

“Não só eu, como diversos outros estudantes passaram por dificuldades no ensino durante a pandemia, alguns sem nunca ter pisado na Universidade e já tendo de iniciar os estudos de maneira totalmente remota. [...] Mas depois de todo esse caos, finalmente voltamos ao presencial e, dessa vez, para aproveitarmos tudo que a Universidade pode oferecer, desde conversar e ver os amigos pessoalmente, participar de projetos, palestras, eventos, calouradas e outras atividades acadêmicas. A universidade pública é mais do que um espaço de aprendizado acadêmico. É um lugar de inclusão, diversidade e oportunidades. Além disso, é um espaço de resistência e transformação”, defendeu.

CULTIVAR A SAÚDE – Em seu discurso, o reitor Custódio Almeida pontuou que a UFC “faz bem para o Ceará, para o Brasil e para o mundo” e convocou os agora graduados a serem também protagonistas e continuadores dessa missão. “O mundo que temos atualmente e as perspectivas de futuro no nosso horizonte exigem nosso compromisso existencial com o bem comum, com a justiça, com a natureza, com a vida. O mundo está doente, por isso precisamos cultivar saúde todos os dias, sem esse compromisso estaremos abrindo mão do amanhã.”

Imagem: reitor com veste talar branca discursa em púlpito

TRÊS LIÇÕES – O orador docente, Prof. George Luiz Gomes de Oliveira, baseou seu discurso em três lições para os concludentes: primeira, não jogue a sua vida fora e não desperdice o tempo; segunda, busque sempre a humildade; terceira, nunca abandone os fundamentos. Sobre esta última, ele disse: “A tecnologia muda. Talvez em poucos anos parte do conhecimento técnico que vocês adquiriram aqui precisará ser atualizada, e isso é fácil de fazer. Mas aquilo que se aprende em casa, os fundamentos, o caráter, a integridade, a honestidade, o respeito, sempre serão o maior diferencial e o maior valor de um bom profissional”.

Imagem: homem de pele branca vestido traje talar discursa em púlpito

O ciclo de colações de grau referente ao período 2024.1 segue nesta quarta-feira (13), com a solenidade que marcará a formação de 44 concludentes do Campus de Quixadá.

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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