Maria Bethânia recebe o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará
- Sábado, 16 Novembro 2024 01:38
Um cantar pleno de ancestralidade no qual ressoam muitas vozes: as mensagens dos orixás, as preces aos santos, as cantigas populares dos brincantes de folguedos, os clamores dos manifestantes contra as opressões, as falas de teatro, a expressão genuína de inúmeras narrativas da cultura do Brasil. Assim é Maria Bethânia, uma artista que tem, em sua voz e performance singulares, um entoar de liberdade e celebração da arte em quase 60 anos de carreira.
A obra e o legado da cantora foram homenageados, na noite dessa sexta-feira (15), pela Universidade Federal do Ceará com a entrega do título de Doutora Honoris Causa. A cerimônia, marcada por muita música e emoção, ocorreu na Concha Acústica da Reitoria e foi conduzida pelo reitor Custódio Almeida, acompanhado por integrantes da administração superior da UFC. Estiveram ainda presentes o governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, e o Ministro da Educação, Camilo Santana.
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A solenidade teve início com a apresentação dos músicos Pantico Rocha e Alisson Félix, que tocaram as músicas “Começaria tudo outra vez”, de Gonzaguinha; “Sonho meu”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho”, e “Iluminada”, de Jorge Portugal e Roberto Mendes. Logo após, adentrou o cortejo de autoridades universitárias, ao som da canção “Reconvexo”, interpretada por Aparecida Silvino.
Caminhando em meio a um público que lotou o espaço, Maria Bethânia foi acompanhada em seu cortejo pelo reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Miguez, pelo pró-reitora adjunta de Cultura da UFC, Glícia Pontes, pelo diretor da Casa de José de Alencar, Leandro Bulhões e por dois fãs, Veridiana Martins de Oliveira e José Olinda Braga, este último, professor do Curso de Psicologia da UFC. Na ocasião, Luiza Nobel cantou “Carcará”, de João de Vale e José Cândido da Silva, enquanto o espetáculo de projeções “Oyá”, desenvolvido no Instituto de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC, trazia referências imagéticas alusivas à trajetória da artista.
A cerimônia seguiu com leitura do currículo da homenageada pela cerimonialista Cláudia Lordão e com três momentos de saudação a Bethânia: pela professora e cordelista Paola Torres, que declamou um cordel que escreveu para a cantora; pelo babalorixá Shell Santos, representando o terreiro de candomblé Ilè Ibá Àsé Kpósu Aziri, o mais antigo de Fortaleza, que destacou a representatividade do momento para os integrantes de religiões de matriz africana; e pela professora Maria Juliana Linhares, do Curso de Música da UFC, que cantou a música “Oração de Mãe Menininha”, acompanhada pelo músico Escurinho.
Na sequência, o reitor Custódio Almeida anunciou a entrega do título de Doutora Honoris Causa à Maria Bethânia, com a aposição da samarra (espécie de túnica) sendo feita pelo ministro Camilo Santana, e do capelo (pequeno chapéu) pela própria artista, declarando Custódio Almeida que “em geral é o reitor quem coloca, mas uma rainha coroa a si mesma”, passando o símbolo doutoral à cantora.
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DISCURSOS - Em sua fala, Maria Bethânia destacou as aproximações com o ambiente acadêmico, em vivências artísticas na Universidade Federal da Bahia na década de 1960, e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2015, e ainda o recebimento dos títulos de Doutora Honoris Causa pela UFBA em 2016 e Láurea do Mérito Cultural pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, em 2019. “Eu e a universidade temos, portanto, uma longa e fértil amizade”, afirmou.
Mencionando as obras de grandes nomes da cultura cearense, como as escritoras Emília Freitas e Rachel de Queiroz, a socióloga Violeta Arraes, o compositor Humberto Teixeira e o poeta Patativa do Assaré, Bethânia agradeceu o título enfatizando a relevância da música popular. “Aqui está ela: a canção e sua história, a canção e sua força, a canção e seu sangue, a canção e suas asas (...) não importa onde, é sempre o palco que me conduz, este lugar sagrado, lugar de festa, onde a menina de Santo Amaro fincou seus pés, e de onde, em reverência, olha nos olhos da vida e canta”, declarou cantando, logo após, um trecho de “O que é? O que é?”, de autoria de Gonzaguinha.
O reitor Custódio Almeida abordou em sua fala a contribuição de Maria Bethânia para o campo das artes no País. “Conceder o título de Doutora Honoris Causa para Maria Bethânia é reconhecer a consistência, vitalidade e dinâmica de uma artista pioneira, que nos convida a remontar uma travessia sonora, performática e de experiências sociais que também conta a história do país”, avaliou.
O gestor pontuou ainda em seu discurso a atuação da cantora em questões político-sociais. “A artista Maria Bethânia jamais se eximiu de defender e de pôr em discussão Brasis encobertos pela violência e pelos ‘podres poderes’. Em décadas de carreira, tem cantado as subjetividades de um país complexo, negro e indígena, belo e misterioso, revelando as potências do povo brasileiro”, considerou.
PÚBLICO - Um público diverso compareceu à Concha Acústica para conferir a entrega do título de Doutora Honoris Causa à Maria Bethânia. Pessoas de todas as idades formaram bem cedo a fila que, no meio da tarde, já contornava a lateral da Reitoria. Dois desses fãs que não perderam a oportunidade de ver de perto a artista foram o casal Guilherme Rocha e João Filipe Alves. “Já fomos até São Paulo para ver a Bethânia e, inclusive, vamos para o show em Fortaleza, mas, quando soubemos da presença dela aqui, sabíamos que não poderíamos perder”, disse Guilherme. “Somos grandes fãs dela e é uma honra ter feito a mesma universidade que vai dar o título à Bethânia”, declarou Filipe, que é egresso do curso de História da UFC.
Não apenas na plateia estavam os fãs, mas também nos bastidores, como é o caso da servidora técnica-administrativa Janne Ângelo, que atua no Centro de Tecnologia da UFC. Integrante do corpo de voluntários que trabalhou no evento, Janne disse que a sua relação com a obra de Bethânia vem desde a infância. “Sempre fui apaixonada pela Bethânia. Nasci no mesmo dia do aniversário dela, 18 de junho, e uma das canções que mais amo faz parte do disco Plunct, Plact, Zuuum, que é do ano em que eu nasci, 1981. Essa homenagem a ela, pra mim, representa uma homenagem à cultura e à mulher brasileira”, disse.
Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.