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À luz de novas informações, UFC decide manter nome de Martins Filho na Concha Acústica; ex-aluno Bergson Gurjão nomeará futuro espaço cultural na Reitoria

Em reunião extraordinária nesta segunda-feira (18), o Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Ceará deliberou pela manutenção da denominação da Concha Acústica da Universidade com o nome do ex-reitor e fundador da instituição cearense, Antônio Martins Filho, agora como “Concha Acústica Reitor Antônio Martins Filho”. Com 31 votos a favor e seis contrários, a decisão foi embasada na recente identificação, pelo Memorial da UFC, de um documento que atesta a prévia existência do nome “Auditório Martins Filho” para o auditório da Concha Acústica.

O referido documento consiste na ata da 49ª Sessão Extraordinária do CONSUNI, realizada no dia 29 de agosto de 1959. Na ocasião, uma comissão de estudantes da Escola de Engenharia apresentou um memorial, por meio do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no qual solicitou que fosse dado o nome do então reitor ao equipamento, o que foi aprovado por unanimidade naquele momento.

Imagem: pessoas sentadas no auditório da Reitoria

Por um erro na pesquisa dos documentos que versam sobre a Concha Acústica, esta ata não havia sido identificada antes da 138ª Sessão Ordinária do CONSUNI, realizada no dia 1º de novembro deste ano, ocasião em que os conselheiros aprovaram, por aclamação, que o equipamento recebesse o nome de Bergson Gurjão Farias, ex-estudante da UFC perseguido e morto pela ditadura militar. A ata só foi identificada pelo Memorial da UFC no último dia 13 de novembro. 

Após identificar o erro na pesquisa e, consequentemente, a existência de um documento oficial que já dava nome à Concha Acústica, o reitor da UFC e presidente do CONSUNI, Custódio Luís Silva de Almeida, convocou para a tarde desta segunda-feira (18) a sessão extraordinária, que debateu e deliberou sobre o tema ao longo de três horas.

A decisão foi tomada tendo em vista o pleito apresentado pelo movimento estudantil à época, a biografia do reitor fundador, a memória e a história da UFC e a institucionalidade e legitimidade do próprio CONSUNI. A deliberação será convertida em Resolução do Conselho Universitário, consolidando-se a decisão tomada em 29 de agosto de 1959.

Tendo em vista a importância da homenagem a Bergson Gurjão, cuja enorme contribuição na luta contra a ditadura militar e para a redemocratização do País precisa ser reconhecida, o CONSUNI também aprovou que o futuro espaço cultural da UFC no prédio da Reitoria, a ser inaugurado no dia 10 de dezembro de 2024, receba o nome de "Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias”.

Mais do que justa homenagem, trata-se de mais um passo no longo processo de reparação histórica às vítimas da ditadura e de reconciliação da Universidade com a Democracia e os Direitos Humanos.

Veja outras imagens da reunião extraordinária do CONSUNI no Flickr da UFC

ENTENDA O CASO – A homenagem póstuma a Bergson Gurjão Farias foi sugerida por lideranças do movimento estudantil, em articulação com a Comissão de Direitos Humanos da UFC, e logo acolhida pela Reitoria como pauta a ser levada ao CONSUNI.

A história de Bergson simboliza a virulência e o autoritarismo da ditadura militar: ele era aluno do Curso de Química da UFC de 1967 a 1969, quando foi expulso por ordem da ditadura, por sua atuação no movimento estudantil da época. Para seguir na luta pela redemocratização do país, ele foi para a clandestinidade e acabou sendo morto violentamente por militares na região do Araguaia em 1972. Os restos mortais de Bergson só foram entregues à família e velados em 2009, justamente na Concha Acústica da UFC.

A intenção dos estudantes e da Comissão de Direitos Humanos da UFC era nomear a Concha Acústica com o nome de Bergson. Antes da sessão do CONSUNI de 1º de novembro, que discutiria a homenagem, foi realizado um levantamento em portarias da Reitoria e em resoluções dos conselhos superiores da UFC, não tendo sido encontrado nenhum documento que atribuía nome ao espaço. Entretanto, a informação que atestava o contrário não estava em nenhuma portaria ou resolução, mas na referida ata da reunião do CONSUNI de agosto de 1959.

Imagem: pessoas sentadas nas poltronas do auditório da Reitoria

COMPROMISSO – Ao instituir uma reunião extraordinária para discutir uma decisão tomada anteriormente, agora à luz de novos fatos, esclarecidos pela ata localizada, a UFC reforça seu compromisso com a verdade, com a ética e a transparência em todas as suas instâncias, ainda que tomar esses valores como inegociáveis em sua atuação pública possa causar o incômodo de precisar reconhecer erros e aprender com eles.

Atualmente, uma grande quantidade de documentos da Universidade ainda permanece no formato físico, sem ter passado pelo necessário processo de digitalização e informatização – fato que pode, eventualmente, causar dificuldade na localização e identificação de materiais que registram a memória da instituição.

Nesse sentido, a UFC entende a urgência e mantém entre suas metas o aceleramento da digitalização de seu acervo e o aprimoramento de sua sistematização e disponibilização, no sentido de proteger sua história, sua autonomia e segurança jurídica.

VOTAÇÃO – A reunião desta segunda-feira (18) foi marcada por falas contundentes, emocionadas e precisas. Se por um lado foi sublinhada a memória da luta de Bergson Gurjão, assassinado de maneira violenta enquanto lutava contra um regime ditatorial e desumano, por outro foi consenso entre muitos conselheiros que se expressaram a necessidade de reavaliar a decisão tomada no dia 1º de novembro diante dos novos fatos antes desconhecidos e agora atestados pela ata localizada. 

Pró-reitor adjunto de Inovação e Relações Interinstitucionais, o Prof. José de Paula Barros Neto ressaltou que, com a localização da ata, a Universidade perdeu argumentos institucionais para justificar a decisão de dar o nome de Bergson Gurjão à Concha Acústica. Para ele, manter o já existente nome de Martins Filho na designação do equipamento não significa esquecer a memória de Gurjão. “Seu nome no futuro espaço cultural da UFC lhe dará voz muito maior. Temos que pensar como instituição”, resumiu.

Conselheira representante do corpo discente, Ana Mayara Silva Melo, integrante do DCE UFC, pontuou que apoiar a escolha do nome de Bergson Gurjão para a Concha não significa colocar em xeque a memória de Martins Filho. “Trata-se de uma disputa ideológica na qual não podemos retroceder. O Conselho tem autoridade e direito de debater sobre isso”, frisou, referindo-se a uma possível troca de denominação do equipamento.

Nesse mesmo sentido, Dandahra Ariadina Bastos, da diretoria do DCE UFC e integrante da Comissão dos Direitos Humanos da UFC, pontuou a concorrência simbólica que permeou a discussão desde o início. “Vivemos um tempo de disputa e de qual narrativa vai prevalecer. O ataque foi à intenção de nomeação da Concha Acústica com o nome de um comunista guerrilheiro, que representa valores que não são da extrema direita”, declarou. “Precisamos nos atentar ao nosso momento histórico. Se o CONSUNI tinha esse posicionamento em 1959, hoje teria outro, e não reconhecer isso é não deixar as engrenagens da história rodarem”, completou a discente.

Já o pró-reitor de Graduação, Prof. David Romero, elogiou a resolução proposta e aprovada: “Esta reunião mostra a dignidade de revisar nossos atos quando necessário. Ao mesmo tempo, a sugestão de dar ao espaço cultural o nome de Bergson Gurjão é olhar para o futuro”, frisou.

Pró-reitor de Assistência Estudantil, o Prof. Bruno Rocha ratificou esse entendimento: “Não foi polêmica nenhuma que levou à reunião de hoje, foi a responsabilidade perante os fatos. Todos os conselheiros devem tomar sua decisão baseados em todas as informações disponíveis, incluindo esta nova”.

Veja entrevista do reitor Cutódio Almeida sobre a decisão do CONSUNI:

Fonte: Divisão de Apoio aos Conselhos Superiores da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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