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Segunda, 02 Dezembro 2024 18:06

O ano era 1994. Debaixo de um juazeiro, um grupo de sete jovens se reunia para estudar na localidade de Cipó, um vilarejo tão pequeno que nem chegava a ser distrito de Pentecoste. Seis rapazes e uma garota, todos excluídos da educação tradicional e sem muitas perspectivas de futuro, mas com muita vontade de aprender. Com eles, o Prof. Manoel Andrade Neto, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que, aos fins de semana, os apoiava nos estudos e na construção de um sonho.

Aquele grupo deu início a um movimento, o PRECE, que levou mais de 500 jovens de comunidades carentes à universidade e gerou as bases da metodologia da Aprendizagem Cooperativa e Solidária, aplicada hoje em várias escolas da rede estadual de ensino. Trinta anos depois, eles promovem um evento no próprio vilarejo do Cipó no próximo sábado (7), para celebrar as conquistas e reencontrar centenas de jovens cujas vidas foram transformadas pela metodologia ao longo desse período.

“A história do Movimento PRECE é uma história de liderança estudantil, de protagonismo dos estudantes”, resume o Prof. Andrade em um documentário sobre o projeto. Naquele distante 1994, o futuro dos jovens do Cipó parecia traçado previamente. O ciclo foi quebrado pela vontade dos garotos de aprender e pelo encontro com o professor, ele próprio um filho da comunidade que enfrentou dificuldades para entrar na universidade e resolveu voltar à sua terra de origem para ajudar outros garotos.

Do juazeiro, o grupo se mudou para uma casa de farinha abandonada e fez dos estudos sua nova rotina. Estudar, debater um assunto, resolver questões. Quem tinha mais facilidade em uma matéria ajudava os que tinham mais dificuldade. E iam se revezando no processo. Nos fins de semana, recebiam do Prof. Andrade apoio com livros, tira-dúvidas, conversas sobre a universidade e a promessa de um futuro diferente. E, assim, surgiram as bases do PRECE.

A experiência gerou resistência entre alguns familiares, que não entendiam aonde aqueles jovens queriam chegar. As dúvidas começam a ceder dois anos depois, quando Antônio Alves Rodrigues, o Toim, foi aprovado no vestibular para Pedagogia na UFC, a ser cursado em Fortaleza. Meses depois, Francisco Gonçalves seria aprovado em Engenharia de Pesca.

A universidade deixava de ser uma miragem para a comunidade do Cipó, que se encheu de orgulho com as conquistas dos garotos. A notícia estimulou jovens de vilas vizinhas a seguir o mesmo caminho, com novas turmas se formando em torno do protagonismo juvenil, da cooperação e da solidariedade. Os veteranos – agora universitários – faziam a trilha inversa: retornavam da Capital nos fins de semana para apoiar os novos alunos.

UMA VIDA EM UMA TARDE – Aqueles foram os anos iniciais e decisivos para o Movimento PRECE, que à época se chamava Projeto Educacional Coração de Estudante. Ao longo desse meio tempo, o movimento passou por diversas fases, como quando surgiram as escolas populares cooperativas (EPCs), que garantiram o acesso de mais de 500 estudantes da região à universidade; ou quando a UFC abraçou a proposta, primeiro garantindo o transporte aos universitários para retornar aos municípios nos fins de semana; depois, ao criar o Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis; ou quando a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC) apoiou o Programa de Estímulo à Cooperação na Escola Pública.

Esses momentos – e vários outros – serão relembrados no evento do próximo dia 7, que irá ocorrer na chamado Cidade PRECE, um condomínio social localizado na região, bancado pelos próprios participantes do PRECE, chamados de precistas. O evento começa às 16h, com exposições sobre esses vários projetos que surgiram ao longo da história do PRECE, bem como sobre a Escola de Ensino Profissionalizante Alan Pinho Tabosa, que aplica a metodologia. Entre 16h e 18h, haverá visita guiada à Cidade do PRECE e, às 18h, a solenidade propriamente dita com a presença de autoridades.

Já estão confirmadas as presenças do reitor da UFC, Prof. Custódio Almeida; do vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, Prof. Penildo Silva Filho; da atual e de dois ex-secretários estaduais de Educação, respectivamente Eliana Estrela, Maurício Holanda e Rogers Mendes; da ex-governadora e ex-secretária-executiva do Ministério da Educação, Izolda Cela; e da coordenadora-geral de Educação em Tempo Integral do MEC, Raquel Franzin. A expectativa da organização do evento é reunir em torno de 500 pessoas.

“É um lugar simples, mas eles vêm prestigiar. E nós também vamos homenagear 12 ex-estudantes do PRECE que são lideranças”, diz o Prof. Andrade, que 30 anos depois continua carregando a bandeira da cooperação e da solidariedade. Além das autoridades, o evento será uma oportunidade de reencontro de várias gerações de precistas, que se apoiaram mutuamente ao longo de sua trajetória.

“O PRECE é um movimento de aprendizagem cooperativa e solidária que fez a diferença na vida de muitas pessoas e ainda está fazendo a diferença. Ele começou fora da escola, mas que conseguiu se inserir dentro da escola pública. E, hoje, ele está se tornando um movimento nacional”, sintetiza o professor.

Fonte: Prof. Manoel Andrade – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.