Debate sobre movimento estudantil na UFC encerra programação do seminário Sementes de Lutas
- Segunda, 16 Dezembro 2024 18:15
- Escrito por UFC Informa
A mesa “O movimento estudantil na UFC”, realizada na sexta-feira (13), marcou o encerramento da programação de inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias, localizado no térreo da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC). O debate fez parte do seminário Sementes de Lutas e contou com a participação de personalidades importantes para a trajetória do movimento estudantil no Ceará.
Do dia 10 ao dia 13 de dezembro, a programação contou com mesas de debate; exposição de fotos, vídeos, documentos e objetos que contam a história do movimento estudantil; momento de reconciliação histórica com ex-militantes do movimento estudantil na UFC que foram perseguidos de alguma forma pela ditadura militar; e lançamento de livros.
O evento faz parte das ações em celebração dos 70 anos da UFC. Segundo o reitor Custódio Almeida, o momento foi escolhido para ser “uma espécie de ápice das celebrações”, devido à importância do movimento estudantil para a história da Instituição e do simbolismo do ato de reconciliação com os egressos. “É um evento que está fazendo gerações de diferentes épocas da UFC se encontrarem. E de fato é muito bom ver pessoas de 20 até quase 90 anos se encontrarem durante toda a semana por conta da inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão, e do lançamento do livro sobre a ditadura [...] é um momento de grande alegria e que nos inspira muito”, celebrou.
Na mesa de encerramento, os participantes compartilharam lembranças e experiências vividas durante suas participações em centros acadêmicos e no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFC e dissertaram sobre as formas que essa participação contribuiu para as trajetórias pessoais e profissionais deles. O debate foi mediado por Paulo Mota, jornalista, sociólogo e diretor de Marketing da Companhia de Gás do Ceará (CEGÁS).
Veja outras imagens da mesa no Flickr da UFC
Luizianne Lins, jornalista, deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, relembrou a época em que presidiu o DCE da UFC ao lado de uma vice-presidenta. A resistência, o preconceito de gênero, a luta política e o reverberar dos aprendizados da militância estudantil em seus mandatos políticos foram destaques de sua fala. André Figueiredo, deputado federal e ex-diretor do DCE, e a professora Helena Martins, do curso de Publicidade e Propaganda e ex-membra do Diretório Acadêmico de Comunicação da UFC, também rememoraram os embates, amigos e momentos históricos que vivenciaram durante o período em que estiveram à frente do movimento.
O ex-deputado José Genoíno, um dos principais homenageados da programação, explica que, para ele, o seminário traz para o futuro as lições do passado: “estamos encerrando essa semana numa data histórica, 13 de dezembro, o dia do Ato Institucional nº 5, que legalizou e institucionalizou a ditadura militar no Brasil, a ditadura terrorista. E eu acho que essa lembrança é importante para iluminar o futuro. É como um carro que tem o para-brisa e o retrovisor. Para mim, foi um evento muito significativo, eu participei dele com emoção, com muita racionalidade, mas também com muito compromisso de resgatar o papel da Universidade e a interação com a sociedade, com as políticas públicas e com a agenda que o País está discutindo”, refletiu.
LANÇAMENTO DE LIVROS – Como parte da programação, no dia 12 foram lançados os livros José Genoíno, uma vida entrevista, de Salvio Kotter e Nicodemos Sena, e Parangaba – memórias de um combatente, de Carlos Cardoso. O evento contou com a presença dos dois biografados: José Genoíno e Parangaba, pseudônimo de Carlos Augusto Lima Paz.
Resultado de uma conversa que se estendeu por três dias entre autores e biografado, o livro sobre Genoíno narra a trajetória do político brasileiro, desde sua formação política e religiosa no sertão cearense, passando pela resistência à ditadura militar (1964-1985), com a formação da Guerrilha do Araguaia, até o enfrentamento dos processos relativos ao Mensalão. A obra foi publicada a partir da parceria entre as duas editoras fundadas pelos escritores, a Kotter e Letra Selvagem.
Veja outras imagens do lançamento no Flickr da UFC
Já Parangaba – memórias de um combatente resgata a trajetória do cearense Carlos Augusto Lima Paz, engenheiro agrônomo, gestor e ex-integrante do movimento estudantil no estado. O apelido Parangaba surgiu ainda na época das aulas do Liceu, onde ele, com 14 anos, já ensaiava pequenos atos de revolução.
“O livro faz a minha história, relata as minhas opções, as minhas escolhas desde quando eu vivi aqui no Ceará, de 64 a 68, portanto é um lugar simbólico e muito importante para lançar este livro. Agradeço muito esse espaço que a Universidade ofereceu. O debate foi muito significativo porque fiz isso junto com meu amigo e companheiro de luta Parangaba, o Carlos Augusto Paz. De uma certa maneira, a gente fica tomado por uma emoção racional ao lançar uma história que não é parada no tempo, mas uma história que caminha para o futuro”, declarou José Genoíno.
ESPAÇO CULTURAL – O novo espaço cultural materializa um compromisso assumido desde o início pela nova gestão da UFC: o de ampliar o funcionamento essencialmente administrativo do prédio da Reitoria, tornando-o também um local para atividades e projetos culturais e artísticos, aberto à comunidade e em constante diálogo com a sociedade. Para isso, algumas unidades administrativas foram realocadas, de maneira a disponibilizar salas para a construção do novo equipamento.
Aprovado pelo Conselho Universitário (CONSUNI) em 18 de novembro, o nome Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias é uma homenagem póstuma ao ex-estudante da UFC perseguido e morto pela ditadura militar brasileira. Sua história simboliza a virulência e o autoritarismo da ditadura militar. Bergson Gurjão era aluno do curso de Química da UFC de 1967 a 1969, quando foi expulso por ordem da ditadura, por sua atuação no movimento estudantil da época.
Para seguir na luta pela redemocratização do País, ele entrou na clandestinidade e acabou sendo morto violentamente por militares na região do Araguaia em 1972. Os restos mortais de Bergson só foram entregues à família e velados em 2009.
Fonte: Coordenadoria de Articulação Política Institucional – fone: (85) 3366.7328