Revista internacional publica artigo de pesquisadores da Geologia da UFC com aplicação pioneira de metodologia no Brasil
- Quarta, 15 Janeiro 2025 11:02
- Escrito por UFC Informa
Pesquisadores do curso de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) aplicaram pela primeira vez, no Brasil, uma metodologia chamada “geotermobarometria elástica”, que permite compreender com mais precisão e de forma confiável a formação de rochas metamórficas de determinada região e, com isso, entender os processos geológicos dessa área. Essa metodologia já é utilizada na Europa, mas não era aplicada no Brasil até então.
O trabalho, feito em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade de Pavia, na Itália, foi recentemente publicado na revista internacional Lithos, que possui Qualis A1 na área de Geociências.
No Brasil, a metodologia normalmente aplicada para esse tipo de estudo é a geotermobarometria convencional, que faz uma análise química da rocha para, daí, calcular as condições de temperatura e pressão a que ela foi submetida. Enquanto o modelo tradicional se utiliza da química, a geotermobarometria elástica utiliza a física, a partir de uma técnica chamada de espectroscopia Raman.
A espectroscopia Raman utiliza a luz de alta resolução e suas frequências para colher informações sobre a estrutura e composição química de inúmeros materiais. Como a UFC possui uma larga tradição de uso da espectroscopia Raman, inclusive realizando eventos internacionais na área, foi possível utilizá-la para aplicar a geotermobarometria elástica. “Isso mostra a força da espectroscopia Raman do nosso Centro de Ciências”, diz a professora do curso de Geologia Lucilene dos Santos, orientadora do estudo.
A PESQUISA – O que os pesquisadores fizeram foi testar a aplicação da nova metodologia em rochas dos municípios cearenses de Forquilha e Canindé, localizadas na parte noroeste da Província Borborema, que haviam sido analisadas pela geotermobarometria convencional anteriormente. Basicamente, eles refizeram o estudo usando a nova metodologia para ver se os resultados convergiam – o que ocorreu de fato.
“A gente quer saber de fato quais foram as condições formadoras das rochas metamórficas de determinadas regiões. Essas rochas passam por processos tectônicos que exercem forte pressão e temperatura, que as modificam”, explica o principal autor do trabalho, Felipe da Silva Aires, recém-egresso do Curso de Geologia da UFC.
Por isso, os cálculos de temperatura e pressão de milhões de anos, dentro de uma rocha, passam a ser as variáveis fundamentais do trabalho. Assim como a luz das estrelas fornece os elementos que ajudam a recontar a história do Universo para os astrônomos, entender a temperatura e pressão as quais as rochas foram submetidas ajuda a recontar parte da história geológica de milhões de anos de determinada região.
Com isso, é possível reviver o choque entre placas tectônicas de milhões de anos, “descida” de minerais para o manto terrestre e sua posterior “movimentação” rumo à superfície. Não apenas isso. Saber essas variáveis também indica se as condições geológicas são mais favoráveis à formação de determinados depósitos minerais, como ouro ou cobre, por exemplo.
“A geologia é rica no Ceará, com grandes volumes de rocha, mas que ainda foram pouco investigados”, diz a professora Lucilene. No caso do trabalho publicado na Revista Lithos, os pesquisadores estudaram inclusões (quando um mineral “aprisiona” o outro) de quartzo aprisionado por granada.
O quartzo é um mineral com propriedades físicas que lhe garantem alta compressibilidade, dependendo da temperatura e pressão a que é submetido. Já a granada é um mineral rígido. Assim, mudanças de temperatura e pressão vão fazer o quartzo se expandir e pressionar a granada, ou realizar o movimento inverso.
O trabalho conseguiu quantificar a pressão das rochas e recontar essa história. A pesquisa sugere a ocorrência de metamorfismo de alta pressão (conjunto de processos que leva à formação das rochas metamórficas) quando houve a junção dos continentes para a formação do Gondwana ocidental, por volta de 600 milhões de anos.
Fonte: Grupo de Pesquisa Igneous and Metamorphic Studies Group (IMSG) – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.