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Programação Fortaleza Amada, da Editora UFC, pauta debate sobre literatura e história da cidade, com lançamento de livro e edital

Uma conversa potente sobre memória, identidade, cidade e literatura. Assim foi a programação especial Fortaleza Amada, realizada pela Editora UFC na terça-feira, 4 de fevereiro, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com falas que trouxeram conhecimentos e reflexões importantes, o encontro marcou o lançamento do livro Fortaleza, poéticas do passado – antologia e do edital Fortaleza Amada, com participação de gestores da UFC e do prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão, além de vereadores, gestores de órgãos municipais, escritores, professores e do público geral.

Com participação especial no evento, o escritor e jornalista Lira Neto trouxe, além de falas contundentes sobre a relação entre literatura, memória e história, dois anúncios aguardados. Um deles é que está pronta e será entregue em breve a biografia da UFC, assinada por ele. A obra, encomendada pela atual gestão da Universidade, marca os 70 anos da Instituição, completados em 2024.

Imagem: Cinco pessoas estão sentadas atrás de uma mesa de madeira em um auditório da Universidade Federal do Ceará (UFC). A mesa tem o nome da instituição gravado na frente. À esquerda, uma mulher de óculos veste um blazer salmão e uma blusa branca. É a vice-diretora da Editora UFC, Juliana Diniz. Ao lado dela, dois homens usam terno e gravata, um deles, sorrindo e segurando papéis, é o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão. Ao lado dele, aparece o reitor da UFC. Custódio Almeida. O quarto participante veste uma camisa amarela de mangas compridas e conversa com um dos homens de terno. É o diretor da Editora UFC. Cavalcante Júnior. O último homem, à direita, tem barba branca, usa óculos e veste uma camisa preta. É o escritor Lira Neto.Na frente da mesa, há dois painéis com o logotipo da UFC e a inscrição "70 anos". O fundo da sala é claro e neutro.

O segundo anúncio foi que ele já está trabalhando em um projeto subsequente, sugerido pelo reitor Custódio Almeida: a biografia de Fortaleza, a ser lançada em 2026. “Aceitei o convite porque é aquele chavão: saí de Fortaleza, mas ela nunca saiu de mim”, brincou o escritor em sua fala.

“Contar a história de uma instituição de 70 anos é também escrever sobre coisas incômodas, sobre determinados momentos em que essa instituição, criada para o saber e para o conhecimento, também foi palco de momentos de violência não só simbólica como física. E isso está na biografia da UFC, como estará na biografia de Fortaleza, uma cidade belíssima, mas excludente, desigual e profundamente injusta com a maior parte da sua população”, ponderou o autor.

Outras imagens do evento estão no Flickr da UFC

Para Lira, esses momentos reprováveis devem ser abordados da mesma maneira que os aspectos virtuosos. “Precisamos conhecer essas histórias para que a escrita do passado não assuma um tom saudosista e, portanto, imobilista, para fazer a esse passado as perguntas necessárias no presente”, justificou.

Nos dois livros, que sairão pela Editora UFC, Lira ressaltou que o trabalho se fundamenta na construção de uma narrativa polifônica, com diferentes vozes e perspectivas. “Temos vários personagens e ninguém é dono da história”, pontuou.

Imagem: Um homem de terno escuro e gravata está de pé atrás de um púlpito de madeira. É o reitor da UFC, Custódio Almeida. Ele fala ao microfone olhando para um senhor de barba branca e óculos, sentado à mesa, o escritor Lira Neto. O púlpito tem um brasão com um escudo azul e verde. A mesa à esquerda possui livros e papéis sobre ela. No fundo, há uma parede clara e um banner com o logotipo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a inscrição "70 anos". Na plateia, várias pessoas estão sentadas, algumas com cabeças inclinadas para frente, prestando atenção.

Além do lançamento da biografia de Fortaleza, também está prevista na UFC em 2026 a realização de um encontro internacional de biografias de cidades e de pessoas, sob curadoria de Lira Neto. “Vamos usar o Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias, na Reitoria, como talvez o palco principal desse encontro”, adiantou o reitor Custódio Almeida.

Em uma breve fala na mesa de abertura, o prefeito Evandro Leitão ressaltou a importância de encarar os problemas e os desafios da cidade. “Temos que fazer um resgate dessa Fortaleza amada, com seus abismos sociais, muitas vezes desamparada, cujos gestores frequentemente não olham para quem mais precisa, não dão visibilidade para aqueles que efetivamente precisam das políticas públicas”, frisou.

ANTOLOGIA – A noite também foi marcada pelo lançamento do livro Fortaleza, poéticas do passado – antologia. Organizada pelo professor Francisco Silva Cavalcante Júnior, diretor da Editora UFC, a obra traz uma seleção cuidadosa de 52 crônicas, contos, ensaios e poemas de 27 autores cearenses (ou que aqui viveram grande parte da vida) de diferentes gerações, revelando aspectos da história, da cultura e da vida em uma Fortaleza antiga.

O processo incluiu uma busca minuciosa em textos ensaísticos, geográficos, históricos e literários de autores de um tempo passado, em livros publicados pela Editora UFC em seus 45 anos de existência. “Folheamos um por um, como quem procura agulha no palheiro. Depois escaneamos os textos para serem revisados e atualizados ortograficamente”, detalhou Cavalcante Júnior.

“A seleção foi extraordinária. Meu querido amigo Airton Monte está aqui, o grande Milton Dias também. Moreira Campos, um dos maiores escritores que esse país já produziu. Francisco Carvalho, Herman Lima. Isso aqui é uma preciosidade, são temporalidades diferentes, escritores de estilos e propostas diferentes”, elogiou Lira Neto.

Imagem: Uma mulher, sentada na plateia de um auditório, segura em suas mãos um livro, enquanto olha para a capa. Na capa aparece o título Fortaleza Poéticas do Passado, com a imagem da fachada de uma casa antiga, nas cores vermelho e cinza claro

EDITALFortaleza, poéticas do passado – antologia é o primeiro volume da coleção Fortaleza 300 Anos, idealizada pela Editora UFC em homenagem ao tricentenário da capital. Agora, uma segunda publicação começa a ser planejada, dessa vez voltada às poéticas do presente, com o lançamento do edital Fortaleza Amada. O documento é uma grande chamada pública a qualquer interessado em escrever sobre seu amor pela capital cearense, no formato de crônica, com o objetivo de compor um livro-coletânea a ser lançado em 2026, no aniversário da cidade.

A participação é aberta ao público, sendo desnecessário qualquer perfil, formação ou idade específicos. Os textos serão recebidos pelo Conselho Editorial da UFC no período de 1º a 30 de abril de 2025, e o resultado será divulgado até 31 de julho do mesmo ano, com até 300 crônicas selecionadas. Outros critérios e regras estão dispostos no edital.

“O passado, a memória é sempre um território em disputa. Ao olhar o passado, falar dele, que é meu ofício, há um risco grande em escorregar nesses desvãos dessa disputa e cultuar certo saudosismo em relação a um passado idealizado. Olhar para ele não significa tentar reconstituí-lo, nem o mitificar, mas olhar de forma crítica”, observou Lira Neto.

Imagem: Cinco pessoas estão sentadas atrás de uma mesa de madeira em um auditório da Universidade Federal do Ceará (UFC). A mesa tem o nome da instituição gravado na frente. À esquerda, uma mulher de óculos, vestindo um blazer salmão, é a vice-diretora da Editora UFC, Juliana Diniz. Ela escuta um homem de cabelos grisalhos e óculos, que está falando e gesticulando com a mão direita, o escritor Flávio Paiva. Ao lado dele, um homem de terno e gravata olha atentamente para ele. É o reitor da UFC, Custódio Almeida. O quarto participante, o diretor da Editora UFC, Cavalcante Júnior, veste uma camisa amarela de mangas compridas e também observa a conversa. À direita, um homem de barba branca e óculos, vestindo uma camisa preta, inclina-se levemente e parece sorrir. É o escritor Lira Neto. Na frente da mesa, há um painel comemorativo dos 70 anos da UFC. O ambiente tem um fundo claro e neutro.

CONVERSA – Após os anúncios e lançamentos, o evento seguiu com a realização de uma mesa redonda. Aos já presentes Custódio Almeida, Lira Neto, Cavalcante Júnior e Juliana Diniz, somou-se o escritor cearense Flávio Paiva, com uma fala pungente sobre memória, história, cultura e arte em Fortaleza.

O escritor chamou a atenção para a oportunidade singular que os dois primeiros livros da coleção Fortaleza 300 Anos irão oferecer: a de perceber as mudanças e transformações nas relações dos autores com sua cidade, a evolução das perspectivas, das vivências e poéticas.

“Estou louco para ler esse futuro livro, porque tenho muitas dúvidas sobre qual amor temos por Fortaleza. A gente tem uma riqueza excepcional, uma potencialidade incrível, mas há uma camada abafando essa cidade. Pessoas que, assim como eu, vieram do interior e trouxeram sua cultura e seu olhar têm apenas pequenas frestas de lugar de expressão, ou porque não são consumidoras ou porque não são de grupos X ou Y”, criticou Flávio.

A análise também se estendeu à falta generalizada de conhecimento da população sobre a história e a memória da cidade. “Temos uma igualdade infeliz: nem pobres nem ricos conhecem Fortaleza”, apontou.

A constatação foi reforçada pelo colega Lira Neto. “A história em Fortaleza precisa ser contada, recontada e conhecida. É uma cidade que não se respeita, que se destrói e se constrói num movimento de autofagia. Não preserva seus marcos, vai se desmemorializando”, lamentou.

Para o reitor Custódio Almeida, essa consciência crítica está intimamente relacionada com o tema do amor, escolhido para o edital. “Posso até falar das coisas feias, mas a ideia é que eu fale delas pelo amor que tenho à cidade. É uma fala de resgate, de compromisso. Amor, nesse caso, não se trata de romantismo, não queremos voltar ao passado, queremos a capacidade de se atualizar nesse passado”, observou.

Fonte: Editora UFC – fone: (85) 3366.7766 / e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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