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UFC e Universidade de Harvard realizam pesquisa em parceria sobre transtornos do sono em pacientes com covid longa

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Harvard realizam pesquisa em parceria para investigar transtornos do sono em pacientes com covid longa. As duas instituições já possuem estudos em desenvolvimento nesse campo, acompanhando pacientes no longo prazo. Agora, trocarão informações para potencializar os achados.

Na UFC, os trabalhos serão liderados pelos professores Manoel Sobreira Neto e Pedro Braga, ambos da Faculdade de Medicina (FAMED), juntamente com outros colegas dessa unidade. Desde 2020, no início da pandemia, eles investigam a evolução de sintomas neurológicos de longo prazo da covid, como alterações cognitivas, problemas no olfato, dores de cabeça e transtornos do sono, sintomas do que posteriormente viria a ser chamado de covid longa. 

Imagem: Foto ilustrativa mostra um monitor em primeiro plano, com um paciente ao fundo em uma cama de enfermaria (Imagem: FreePik)

A pesquisa na UFC estudou os vários tipos de transtornos do sono provocados pela covid longa em um grupo de cerca de 150 pacientes com protocolos clínicos. Essa fase durou até 2022, com a publicação de um primeiro artigo científico sobre o tema.

Em meados de 2023, os pesquisadores obtiveram financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e passaram a realizar exames de polissonografia, fase que deve finalizar até o início do próximo ano.  A polissonografia é um exame que permite a avaliação de vários parâmetros simultâneos do sono, como a atividade elétrica cerebral, fluxo e esforço respiratório, eletrocardiograma, movimentação dos membros e oximetria, além de filmagem e gravação do sono simultâneo. 

Além dela, esses pacientes estão sendo acompanhados com exames de ressonância magnética cerebral, avaliação neuropsicológica e busca de biomarcadores séricos para doenças neurodegenerativas.

A PESQUISA COM HARVARD – Foi nessa mesma época que a equipe da UFC conheceu os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelo grupo de Janet M. Mullington, professora de Neurologia da Escola de Medicina de Harvard e diretora do Centro de Pesquisa Clínica do Centro Médico Beth Israel Deaconess. Além de ser referência internacional na área de sono e inflamação, ela coordena uma pesquisa envolvendo vários grupos de estudos sobre o tema, financiados pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (National Institution of Health – NIH).

A partir daí, nasceu o convite ao professor Manoel Sobreira Neto para que ele conhecesse o protocolo adotado pela universidade americana e realizasse um estágio de pós-doutoramento, entre julho e dezembro do ano passado, em Harvard. Isso deu início a uma fase de estudos conjuntos entre as duas instituições, avaliando a microestrutura do sono e a existência de alterações durante o sono REM.

Imagem: Foto do Prof. Manoel Sobreira Neto em frente a um prédio da Universidade de Harvard (Foto: acervo pessoal)

O sono REM (Rapid Eyes Moviment) é uma das fases do ciclo do sono e se caracteriza por movimentos rápidos dos olhos e atividade cerebral intensa. Essa fase é fundamental para o processamento das memórias e do aprendizado. É nela que ocorre a maioria dos sonhos.Durante a fase REM, os músculos do corpo são “desligados”  o que os cientistas chamam de “atonia” , podendo ocorrer apenas alguns movimentos involuntários sutis. Os estudos realizados pelos grupos, no entanto, identificaram casos de alguns pacientes com covid longa que haviam perdido essa atonia, ou seja, ficavam com os músculos ativos mesmo durante o sono e interagiam com o conteúdo desse sono.  

A ideia agora é que os grupos de pesquisa compartilhem seus dados para que possam ser realizadas análises mais detalhadas. “Uma vez realizados os exames de polissonografia, vamos enviar alguns dados para que possa ser feita uma análise da chamada microestrutura do sono. Já analisamos a macroestrutura, mas é possível que, na microestrutura, consigamos ver problemas, que são alterações sutis na polissonografia”, explica o professor Manoel Sobreira Neto.

Para isso, devem ser realizadas análises com inteligência artificial e análise da atonia no sono REM.  Esta última análise é particularmente importante porque a perda da atonia normal do sono REM pode estar relacionada a doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson e um tipo específico de demência, chamada demência por corpos de Lewy.

Além disso, o trabalho em colaboração permitirá uma análise mais ampla, uma vez que as amostras populacionais são diferentes e complementares. Enquanto a pesquisa americana acompanha uma população principalmente caucasiana e de perfil socioeconômico mais alto, a da UFC acompanha um grupo de latinos, com perfil socioeconômico mais baixo.

A ideia, diz o professor Manoel Sobreira, é estabelecer uma parceria de médio e longo prazo, em um horizonte de cinco anos, que inclusive possa servir de base para realização de publicações conjuntas, envio de um estudante de pós-graduação para um doutorado sanduíche (realizado em dois países) e apresentação de dados em congressos internacionais.

No momento, a equipe da UFC está recebendo voluntários saudáveis para participar da pesquisa. Essas pessoas formarão um grupo de controle, que passará pelos mesmos testes dos pacientes e cujos resultados servirão como referência, uma linha de base para comparar com os resultados dos exames aplicados nos pacientes com covid longa. Os interessados podem se voluntariar por meio de formulário on-line.

Fonte: professor Manoel Sobreira Neto – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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