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Professora da UFC publica artigo sobre desigualdade de gênero na distribuição de bolsas de Produtividade em Pesquisa

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, um grupo de pesquisadoras brasileiras da área de Engenharia Civil – entre elas a professora Verônica Castelo Branco, da Universidade Federal do Ceará (UFC) – mostra que ainda há muito a se conquistar quando o assunto é presença e reconhecimento das mulheres na ciência. É o que elas mostram no artigo “Criteria for Research Productivity grants in Brazil applied to Civil Engineering: reflections on gender differences and the current context” (Critérios para bolsas de Produtividade em Pesquisa no Brasil aplicados à Engenharia Civil: reflexões sobre diferenças de gênero e o contexto atual), publicado nesta semana na última edição dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

O trabalho aborda questões de gênero no âmbito da concessão de bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no campo da Engenharia Civil, a partir de uma análise quantitativa e descritiva de dados coletados em documentos públicos relacionados ao assunto. Entre essas informações estão, por exemplo:

  • dados entre 2005 e 2023 sobre bolsas concedidas pelo CNPq (presentes no Painel de Fomento em Ciência, Tecnologia e Inovação do CNPq);
  • número de mulheres (entre 2019 e 2023) com formação e atuação em Engenharia Civil e número geral de todos os tipos de bolsas concedidas pelo CNPq para mulheres (extraídos do Painel Lattes);
  • quantidade e categorias de bolsas PQ vigentes em fevereiro de 2024 para a área de Engenharia Civil, com foco em mulheres bolsistas PQ;
  • resumo histórico dos critérios de análise das chamadas de bolsas PQ do CNPq (entre 2016 a 2023);
  • quantidade de docentes mulheres permanentes nos programas de pós-graduação (PPGs);
  • e consulta ao currículo Lattes de bolsistas PQ com bolsas válidas em fevereiro de 2024 para identificar o número de declarações de licença-maternidade e o nível de carreira de cada uma na instituição de origem.

Imagem: Mulher sorridente de cabelos castanhos longos e ondulados posa com uma mão apoiada no queixo. Ela usa um vestido branco sem mangas e um colar com pedras ovais brancas e detalhes dourados. Ao fundo, folhas verdes de uma planta tropical

Segundo Verônica Castelo Branco, as análises apontaram a existência de 40% de engenheiras civis (registradas na Plataforma Lattes do CNPq e trabalhando na área em questão) e que 73% dos programas de pós-graduação no Brasil (Engenharia Civil) possuem mais do que 20% de professoras do sexo feminino atuando em pesquisa. “Ou seja, a demanda existente para o pleito da bolsa PQ é bem maior do que a porcentagem de bolsas concedidas, que está praticamente congelada há 20 anos”, aponta a professora.

Os dados revelaram ainda que 70% dessas docentes já atingiram os dois níveis mais altos da carreira acadêmica (professoras associadas ou titulares) em suas instituições de origem, o que as credencia para pleitear as bolsas PQ/CNPq. Porém, nos últimos 20 anos, somente 20% dos docentes contemplados com bolsas PQ/CNPq foram mulheres

“Destacamos ainda que pouquíssimas pesquisadoras são contempladas com os níveis mais altos da bolsa, fato que se torna ainda mais complexo quando observamos que o número de submissões feitas por professoras aumentou ao longo das duas últimas décadas”, pontua Verônica.

BARREIRAS ESTRUTURAIS - Entre as conclusões do trabalho, as autoras sugerem que os estudos e as políticas definidores dos critérios para concessão de bolsas de Produtividade (PQ) devem considerar a possibilidade de existência de: segregação vertical e horizontal nas carreiras das profissionais; barreiras estruturais que podem estar impedindo as professoras da área de Engenharia Civil de se desenvolverem como pesquisadoras no Brasil; escassez de suporte, encorajamento e políticas que possam incentivar as pesquisadoras a atingir níveis mais altos nas próprias bolsas de produtividade; e subjetividade nos critérios de julgamento utilizados nas avaliações. 

A construção do artigo ocorreu ao longo de vários meses de 2024. Além de Verônica, são coautoras do trabalho as professoras Lilian de Rezende (Universidade Federal de Goiás), Kamilla Savasini (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), Marta da Luz (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), Michéle Casagrande (Universidade de Brasília), Liseane Thives (Universidade Federal de Santa Catarina); Lêda Lucena (Universidade Federal de Campina Grande) e Liedi Bernucci (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Todas são bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq, na área de Geotecnia/Infraestrutura de Transportes.

“Acreditamos que a construção coletiva desse artigo científico, com o olhar para as questões de gênero, faz com que ele seja melhor e mais forte. Cada uma de nós, embora pertencentes a uma mesma área de atuação, possui trajetória de vida individualizada, com realidades distintas e capaz de enriquecer esse processo”, acredita Verônica.

Fonte: Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (DET/UFC) - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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