Projeto da UFC financiado por instituição inglesa investiga rã em extinção da serra de Maranguape
- Segunda, 07 Abril 2025 11:49
- Escrito por UFC Informa
Ameaçada de extinção, Adelophryne maranguapensis, como o nome sugere, é uma espécie nativa da serra de Maranguape, no Ceará. Popularmente conhecida como rãzinha-de-maranguape, esse anfíbio tem pouco mais de 20 milímetros de comprimento e uma grande capacidade de se proteger naturalmente de diversos agentes causadores de doenças. Um deles é o fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), responsável pela quitridiomicose, infecção letal que ameaça populações de anfíbios em todo o mundo.
Esses minúsculos animais, ou mais precisamente os microrganismos em sua pele, são objeto de investigação do estudante Victor Lucas Morais Rodrigues, do Programa de Pós-Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade (PPGSis) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Seu projeto de mestrado, sob orientação da professora Denise Hissa e coorientação da professora Vânia Melo, foi aprovado para financiamento pela Rufford Foundation, instituição inglesa que apoia projetos de conservação da biodiversidade.
"Os microrganismos presentes na pele dos anfíbios têm um papel importante em sua saúde, ajudando na defesa contra doenças. Estudá-los pode ajudar a entender como a espécie se defende naturalmente contra o Bd, o que pode ser importante para proteger tanto a rãzinha-de-maranguape quanto outras espécies de anfíbios ameaçadas", argumenta Victor. Esse fungo tem provocado o declínio e extinção de muitas espécies, pois interfere nas funções vitais dos animais, como a regulação da temperatura e respiração.
A pesquisa pretende explorar a diversidade taxonômica do microbioma da pele da rãzinha-de-maranguape e monitorar a presença do fungo Bd. A partir de análises detalhadas, a ideia é verificar como essas comunidades microbianas influenciam a resistência da espécie ao fungo e identificar variações ambientais. Com isso, será possível contribuir para a implementação de medidas preventivas e estratégias de mitigação que possam garantir a sobrevivência da espécie.
Atualmente, a pesquisa está na fase de análise dos dados microbiológicos coletados. "Já realizamos o sequenciamento genético da microbiota presente na pele da espécie e agora estamos processando e interpretando essas informações para entender como esses microrganismos podem influenciar a saúde da rã e sua conservação", detalha. Um monitoramento a longo prazo para detecção do fungo Bd permitirá identificar possíveis surtos da doença e avaliar risco de infecção na população de rãzinhas-de-maranguape.
AMEAÇA DE EXTINÇÃO – Apesar de sua grande resistência natural a patógenos como o fungo Bd, a rãzinha-de-maranguape tem sua sobrevivência seriamente ameaçada pela ação humana. O desmatamento para agricultura, urbanização e outras atividades tem degradado o habitat da espécie, atualmente classificada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature) como "criticamente em perigo".
Victor explica que, como a espécie possui uma distribuição extremamente restrita, localizada apenas na serra de Maranguape, qualquer alteração no ambiente impacta diretamente sua sobrevivência, principalmente a remoção de bromélias, comumente feita para ornamentação. "É uma espécie única, que vive em bromélias e possui desenvolvimento direto, ou seja, não passa pela fase de girino. Isso a torna ainda mais dependente desse habitat específico", complementa.
A preservação de A. maranguapensis não beneficia apenas a espécie, mas contribui para a manutenção de todo o ecossistema da serra de Maranguape. Como outros anfíbios, a rãzinha-de-maranguape tem um papel ecológico fundamental como reguladora de populações de insetos e outros invertebrados, ajudando no equilíbrio dos ecossistemas onde ocorre. Além disso, os anfíbios são bioindicadores sensíveis às mudanças ambientais, sendo essenciais para o monitoramento da saúde do ambiente.
APOIO – A Rufford Foundation apoia projetos de conservação da biodiversidade, priorizando iniciativas de impacto local com potencial de aplicação prática na proteção de espécies ameaçadas. Os dados da pesquisa com a rãzinha-de-maranguape podem fornecer informações úteis para a conservação de outros anfíbios com desafios semelhantes. O trabalho é desenvolvido no PPGSis/UFC, com apoio dos laboratórios de Recursos Genéticos (LARGEN/UFC) e de Ecologia Microbiana e Biotecnologia (LEMBIOTECH/UFC).
Fonte: Victor Lucas Morais Rodrigues, estudante do Programa de Pós-Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.