- Sexta, 11 Abril 2025 12:59
Em termos práticos, a colação de grau oficializa o recebimento do título de graduado. Na ocasião, o formando deve assinar a ata da cerimônia, documento formal que registra a solenidade e é necessário para emissão do diploma. Mas a relevância da colação ultrapassa em muito suas providências burocráticas, ao incluir também aspectos de valor ritualístico – as vestes tradicionais, os discursos, o juramento e a fala do reitor que efetiva a outorga do grau.
Sob uma perspectiva meramente pragmática, esse conjunto de formalidades pode parecer repetitivo ou desnecessário. Felizmente, a secura de uma concepção mercadológica do mundo nunca conseguiu se sobrepor ao fato de que somos seres simbólicos, que constroem cultura por meio da subjetividade, do abstrato.
Assim como outros ritos sociais, a colação de grau marca uma ocasião importante na vida de um grupo de pessoas, um fechamento de ciclo em suas trajetórias. Ela conecta aqueles envolvidos em uma mesma celebração, fortalece laços e identidades, reforça um sentido de propósito e confere significado àquilo que, de outra forma, seria apenas mais uma rotina burocrática.
Não por acaso, é um momento tão aguardado pelos estudantes, sobretudo por aqueles que, durante a graduação, atravessaram os difíceis anos da pandemia de covid-19 e a reclusão do distanciamento social. “Para a gente, que entrou nesse período entre 2020 e 2021, pegou pandemia, aulas remotas, foi tudo mais difícil. Então, é muito importante a UFC possibilitar isso para os alunos, esse momento de comemoração”, recorda José Victor Farrapo da Silva, formado em Odontologia pela UFC em Sobral.
Victor foi um dos 126 concludentes do semestre de 2024.2 do referido campus que colaram grau na última quarta-feira, dia 9 de abril, dos cursos Ciências Econômicas, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Finanças, Música, Odontologia e Psicologia.
Egresso de escola pública, o jovem entrou pelo sistema de cotas e elogia as iniciativas voltadas não apenas à ampliação do acesso, mas ao auxílio estudantil durante o curso. “Fui bolsista PIBIC de Iniciação Científica de forma voluntária, mas também fui PIBIC de Iniciação à Docência de forma remunerada, algo que me ajudou bastante a permanecer na Universidade. Também participei de projetos de extensão, aproveitei tudo o que a graduação pode oferecer”, conta.
LAÇOS DE AMIZADE – Para Nágila Kelly Lima de Sousa, tão importante quanto os auxílios institucionais foi o suporte garantido pelos colegas e pela família. Natural de Santa Quitéria, ela se mudou para Sobral para morar com o irmão durante o curso de Engenharia da Computação. Segundo ela, até conseguir se adaptar às demandas curriculares da graduação, foi complicado. “Assim como alguns amigos, pensei em desistir, mas ninguém deixava, falávamos ‘não, você vai ficar’. Continuei graças a essa força”, recorda. “Estou muito feliz, achei que esse dia não ia chegar nunca”, brinca.
Gabriel Santiago Rocha de Jesus passou por choque semelhante nos primeiros semestres. “Sempre gostei de computadores, então acabei ingressando em Engenharia da Computação. Quando vi, era disciplina de cálculo, de física, de linguagem de programação, conteúdos que a gente nunca tinha ouvido falar. Ficava me perguntando ‘meu Deus, o que eu tô fazendo aqui?’”, lembra, com bom humor.
Natural da Bahia, Gabriel morou em várias cidades antes de chegar a Sobral para estudar. Nesse aspecto, porém, não houve surpresas: “Minha mãe sempre me ensinou a cuidar das coisas de casa, então foi tranquilo”, revela. Além dela, o formando levou o time completo para a colação: pai, avó, irmã e a namorada.
Douglas Freitas do Nascimento também estava acompanhado da namorada, mas com uma diferença: a colação também era dela. Formandos do curso de Música, os dois se conheceram na graduação. Natural de Parnaíba (PI), Douglas cursou Filosofia antes de decidir abraçar a sua verdadeira paixão. “Já tocava desde os 8 anos, e aos 12 ingressei no Programa de Comprometimento e Gratuidade do SESC, onde aprendi a tocar clarineta”, recorda.
Ao ingressar na UFC, mudou-se sozinho para Sobral, passando por um processo de amadurecimento semelhante ao de muitos colegas. O compromisso com Mayra Beatrisse Costa Freire veio com o retorno das aulas presenciais. “A gente já era amigo, mas na volta ao campus pegamos algumas disciplinas juntos e fomos nos aproximando. Hoje estamos juntos há dois anos e meio”, conta Douglas.
Ao contrário do namorado, Mayra não tinha vivência com a música antes de ingressar no curso. “Venho de uma cidade muito pequena, chamada Moraújo. Só fui saber da existência do curso de Música quando vim para Sobral fazer um curso livre de teatro”, conta.
“A partir daí comecei a me interessar pela graduação e, quando entrei, conheci o corpo docente e os colegas, e minhas expectativas foram mais do que superadas. Minha experiência aqui foi incrível, aproveitei tudo que tinha pra aproveitar e fico muito feliz de ter chegado até o final”, completa a jovem.
FALAS EMOCIONADAS – Escolhida oradora discente para a cerimônia, Jordana Moura de Almeida, do curso de Psicologia, fez uma fala muito bonita a partir de trechos da canção “Sujeito de sorte”, do cearense Belchior. “Considerar-se um ‘Sujeito de sorte’, hoje, é algo grandioso, embora saibamos que sorte foi tudo o que não tivemos, pois temos consciência do quanto o esforço, o medo e a esperança foram nossos fiéis companheiros em todos esses anos”, recordou a formanda.
“Enquanto isso, o tempo passava, e íamos construindo, dia após dia, os profissionais que hoje se jogam no mundo. Capacitados. E se chegamos ao dia de hoje sãos, salvos e fortes, não foi sozinhos. Nossas redes de apoio fizeram jus ao nome e aqueceram nossos corações”, elogiou Jordana. “E não podemos esquecer de quem esteve conosco no dia a dia em sala de aula, nos corredores, no Restaurante Universitário e nas confraternizações afora. A verdade é que não há regra para definir quem faz parte da sua família, principalmente quando se está num lugar novo. O Campus de Sobral possui a maioria de seus alunos advindos de outras cidades: algumas de perto, outras nem tanto”, seguiu a oradora, reverberando a sensação de muitos de seus colegas.
Bastante emocionada, a oradora docente, Adriana Kelly de Sousa Santiago Barbosa, do curso de Odontologia, deu seguimento à solenidade, ressaltando a importância da família, a missão do professor, o valor da perseverança e as expectativas de futuro para os novos formados. “Hoje vocês recebem um diploma, mas levam muito mais: levam as marcas de cada aula, de cada desafio superado, de cada amizade construída. O mundo que os espera lá fora exige competência, mas também exige sensibilidade. Mais do que profissionais, o mundo precisa de seres humanos éticos, compassivos e comprometidos com o bem comum”, pontuou.
A fala foi reforçada pelo reitor da UFC, Custódio Almeida. “A Universidade Federal do Ceará tem orgulho de formar cidadãos e cidadãs comprometidos(as) com a ciência, com o desenvolvimento da nossa sociedade e do País, com a justiça social e com a defesa da natureza e da vida. Os conhecimentos adquiridos nas salas de aula e laboratórios, nos projetos de pesquisa e de extensão e em todas as experiências vivenciadas durante o curso não pertencem apenas a vocês, mas a toda a sociedade, que espera contribuições significativas para melhorar o presente e trazer esperança para o futuro”, finalizou.
O ciclo de colações de grau nos campi do interior do Estado segue até o fim de abril com as solenidades em Itapajé (15), Russas (28) e Quixadá (29).
Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.