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Programa de Formação Antirracista: UFC pela Equidade Racial realiza aula inaugural; iniciativa é fruto de parceria com secretaria estadual

Discutir a formação da sociedade brasileira racializada, compreender as formas de racismo e pensar o que as instituições podem fazer para enfrentar as desigualdades raciais foram as principais discussões da aula inaugural “A questão racial no Brasil”, que abriu o Programa de Formação Antirracista: UFC pela Equidade Racial, fruto de cooperação formalizada entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Secretaria da Igualdade Racial do Estado do Ceará (SEIR).

Imagem: Foto posada dos participantes da aula magna do Programa de Formação Antirracista: UFC pela Equidade Racial no auditório da Reitoria

A aula inaugural, ministrada na manhã dessa terça-feira (12) pela professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Zelma Madeira, também secretária estadual da Igualdade Racial, foi voltada para trabalhadores terceirizados da UFC, em especial profissionais que atuam na segurança da Universidade. Também estiveram presentes gestores, servidores técnico-administrativos, docentes e estudantes. 

A parceria entre UFC e SEIR tem como objetivo debater, com trabalhadores da UFC, o combate ao racismo e o enfrentamento às desigualdades raciais, tornando, assim, a Universidade mais inclusiva e comprometida com uma prestação de serviços democrática e antirracista. 

Com carga horária de 21 horas, a formação terá dois ciclos: o primeiro, que iniciou com a aula inaugural, com duas turmas compostas por trabalhadores terceirizados e servidores técnico-administrativos que atuam na segurança patrimonial, nos transportes e nos serviços gerais da Universidade; e um segundo, previsto para iniciar em agosto, com a inclusão de gestores e servidores docentes e técnico-administrativos. 

O conteúdo programático terá temáticas como: negritude no Brasil e na realidade cearense, racismo e suas configurações, resistências afro-brasileiras e políticas de combate ao racismo, atendimento inclusivo e humanizado e equidade racial no serviço público. Todas as turmas terão como trabalhos finais a concepção de produtos e iniciativas práticas voltadas para o exercício das atividades dos formandos na UFC. 

Durante a abertura da aula, o reitor, Prof. Custódio Almeida, ressaltou que a formação também tem a intenção de mostrar a voz oficial da atual gestão da UFC em relação ao racismo. “A nossa voz oficial é uma voz que diz que o racismo, eu vou usar um pleonasmo, é uma excrescência da ignorância”, afirmou o reitor, reforçando que precisamos, enquanto sociedade, estar sempre revendo as próprias atitudes. 

“A gente diz: ‘eu não sou racista’, mas eu tenho que me vigiar, porque eu não sou um ser isolado da sociedade. A forma como eu penso, as palavras que eu digo, e a forma como eu ajo não estão totalmente sob o meu controle. Então, sem querer, muitas vezes eu faço atitudes racistas, digo palavras racistas, porque eu estou em um contexto estruturalmente racista. É o que hoje tem se chamado racismo estrutural, que é algo que está arraigado na nossa cultura”, observou. 

Custódio ressaltou ainda o apoio da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), por meio da Divisão de Equidade, Diversidade e Inclusão, e da Superintendência de Infraestrutura e Gestão Ambiental da UFC (UFC INFRA). A PROGEP tem planejado uma programação permanente para combate a diversos tipos de violência dentro da Instituição. Já a UFC INFRA, setor em que estão vinculados os trabalhadores da segurança, contribuiu com a mobilização dos profissionais. Para o reitor, é importante que a vigilância da UFC contribua com o combate ao racismo, sendo, principalmente, multiplicadores de conhecimento e atitudes antirracistas.

AULA MAGNA  “A minha fala não vai se encaminhar no sentido de colocar a culpa nos brancos, mas da gente fazer uma reflexão acerca da nossa raiz histórica de um projeto de organização, da produção e reprodução da vida, baseada na colonialidade, de uma escravidão que durou quase 400 anos e, ao final, saiu sem nenhuma política de reparação por esse passado, como eu já disse, criminoso”. Assim a Profª Zelma Madeira iniciou a aula inaugural sobre a questão racial no Brasil, trazendo o debate sobre a formação da sociedade brasileira. 

A professora situou a população brasileira como racializada, em que existe um grupo étnico branco, beneficiado com privilégio e que ocupa espaços de poder, e um grupo étnico de negros e indígenas, que vive em condição de subalternidade e sofre com discriminação e marginalização. Para mudar essa condição, conforme a secretária, é necessário pensar historicamente a pauta racial, que tem sido desprezada pelas pessoas que têm poder de decisão; pela academia; pelos economistas, que pensam modelos de desenvolvimento; e pela mídia. "As instituições são responsáveis por estabilizar esse sistema racializado e, dessa maneira, normalizar o racismo", ressaltou Zelma. 

Imagem: Foto com a Profª Zelma Madeira em pé no púlpito fazendo uso da palavra, enquanto o público assiste à aula magna

A secretária estadual da Igualdade Racial explicou também três concepções de racismo que aparecem na nossa sociedade: individualista, que se manifesta nas relações interpessoais e nas subjetividades; institucional, que tem foco na relação estabelecida entre racismo e estado; e racismo estrutural, que é inerente à cultura e à ordem social. Nas instituições, segundo a professora, o racismo pode se manifestar, por exemplo, pela invisibilidade direcionada ao corpo negro, pela “associação perversa” dos traços negroides à feiura e pela falta de diversidade no poder. 

A professora ressaltou a necessidade das políticas de combate ao racismo, que podem ser repressivas, valorativas e de ações afirmativas. Em relação às políticas repressivas, a Constituição Federal de 1988 já prevê o racismo como crime. “O racismo não é brincadeira pesada, é crime e, como tal, deve ser tratado. A gente inclusive conta com a delegacia especializada no Ceará, aqui em Fortaleza”, afirmou. As políticas valorativas são mais voltadas para as formações e o reconhecimento do povo negro, como a iniciativa do curso na UFC. E as políticas de ações afirmativas promovem oportunidades aos grupos marginalizados

Depois de dar todo o panorama da situação do Brasil, Zelma Madeira comentou sobre atitudes que podem ser feitas nas instituições para combater o racismo. Entre essas ações, a professora citou o aprimoramento do preenchimento do quesito cor-raça para saber como é o perfil atual de quem está na UFC. Falou também sobre a importância das ações valorativas, como as formações das atividades de letramento racial, do fortalecimento do pertencimento étnico, da implementação do censo racial e das políticas de cotas. 

Um dos participantes do curso, preposto do contrato de vigilância da UFC, Antonio Eraldo da Silva, ressaltou a importância de conscientizar a comunidade acadêmica para o combate ao racismo. Ele explicou que a empresa terceirizada também desenvolve ações de formação com alguns temas, como direitos humanos. “Os funcionários são sempre incentivados a fazer essas formações e participar para que a gente tenha no resultado do trabalho uma forma mais humana e mais profissional possível de abordagem”, disse. 

PROGRAMA UFC PELA EQUIDADE RACIALPrograma de Formação Antirracista: UFC pela Equidade Racial é executado pela SEIR em parceria com a UFC, por meio da Coordenadoria de Articulação Política Institucional (CAPI) do Gabinete da Reitoria, e conta com apoio da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP) e da Superintendência de Infraestrutura e Gestão Ambiental da UFC (UFC INFRA).

Fonte: Gabinete da Reitoria – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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