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Pesquisas apontam o impacto das cotas nas universidades brasileiras

As pesquisas acadêmicas que têm estudado as várias experiências de cotas nas universidades brasileiras apontaram não haver diferença significativa de desempenho entre os estudantes cotistas e não cotistas. Essas pesquisas têm se debruçado, principalmente, sobre a experiência de universidades como a UERJ, a UnB e a UFBA, as primeiras a adotar esse tipo de ação afirmativa, ainda em meados dos anos 2000.

Esses indicadores são importantes porque uma das principais críticas que se fazia à política de cotas é que elas tenderiam a rebaixar o nível acadêmico do ensino. No caso da UFC, como tal política foi implantada em 2013, ainda não há estudos conclusivos sobre o desempenho dos cotistas.

A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira a implantar uma política de cotas no Brasil, ainda em 2003. A Universidade adotou como critério a reserva de 20% das vagas para alunos da rede pública, 20% para negros e 5% para deficientes físicos. Os candidatos só poderiam disputar em uma dessas faixas e precisariam ter renda líquida familiar "per capita" de R$ 300,00 (valor de 2004), reajustados anualmente.

A experiência da UERJ foi acompanhada pelos doutores em Educação Teresa Olinda Caminha Bezerra e Cláudio Gurgel na pesquisa "A Política Pública de Cotas em Universidades, Desempenho Acadêmico e Inclusão Social", publicada em agosto de 2011. O estudo tomou como recorte os estudantes que entraram na UERJ via vestibular entre 2005 e 2006 nos cursos de Administração, Medicina, Direito, Odontologia, Engenharia Química e Pedagogia.

Os pesquisadores perceberam que os alunos cotistas obtinham notas bem inferiores aos dos não cotistas no Vestibular. Apesar disso, depois de ingressarem na universidade, o desempenho acadêmico de ambas as categorias era bastante semelhante. A maior diferença de notas foi registrada no Curso de Direito (10,1%, a favor dos não cotistas, na turma que entrou no vestibular 2005), mas esse índice cai no caso de Medicina (2%) e chega a ficar favorável aos cotistas quando se compara seu desempenho nos cursos de Administração e Pedagogia.

"Não obstante o resultado medíocre obtido no Vestibular, os alunos cotistas superaram as deficiências curriculares iniciais, tendo sido capazes de acompanhar o desenvolvimento das matérias ministradas em sala de aula tão bem quanto seus colegas que não se valeram do sistema de cotas", avaliam os pesquisadores.

Outra experiência que tem sido bastante acompanhada é a da Universidade de Brasília (UnB), a primeira federal a adotar uma política de cotas. A UnB destina 20% das vagas, por curso e turno, a estudantes autodeclarados negros. O caso da UnB foi estudado pelo professor Jacques Veloso, pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Ensino Superior da UnB, que em agosto de 2009 publicou o artigo: "Cotistas e não Cotistas: Rendimentos de Alunos da Universidade de Brasília".

O estudo avaliou o rendimento de três turmas de alunos que ingressaram na universidade nos anos de 2004, 2005 e 2006, comparando a média do rendimento dos dois segmentos em cada turma dos cursos de Ciências, Humanidades e Saúde. "Tomados esses dados em seu conjunto, em termos de diferenças substantivas no rendimento na universidade – as que realmente importam – não houve uma sistemática superioridade dos estudantes não cotistas, embora assim previssem críticos do sistema de reserva de vagas", conclui.

Resultado parecido foi encontrado na dissertação Efeitos da Política de Cotas na Universidade de Brasília: uma Análise do Rendimento e da Evasão, da pesquisadora Claudete Batista Cardoso. Assim como o caso da UERJ, a pesquisadora identificou que os não cotistas obtinham um desempenho bem acima dos cotistas no processo vestibular, notadamente nos cursos de alto e médio prestígio das Humanidades e Ciências. Mas também identificou que, uma vez dentro da universidade, não há diferença considerável entre notas de alunos cotistas e não cotistas. A exceção identificada pela pesquisa foi o desempenho dos alunos dos cursos de alto prestígio de Ciências (diferença de 11% na média das notas).

Os pesquisadores também têm analisado o caso da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A instituição garante uma reserva de 43% das vagas para alunos da rede pública, além de 2% para indígenas. No trabalho "Sistema de Cotas: um Debate. Dos Dados à Manutenção de Privilégios e de Poder", os pesquisadores Delcele Mascarenhas Queiroz e Jocélio Teles dos Santos avaliaram o desempenho dos alunos dos cursos de Medicina, Direito, Odontologia, Administração, Ciências da Computação, Engenharia Elétrica, Psicologia, Engenharia Civil, Mecânica, Arquitetura, Jornalismo e Produção Cultural, que ingressaram em 2005.

A pesquisa indica que a diferença das notas do vestibular de 2005 entre cotistas e não cotistas foi pouco significativa, quase sempre abaixo de um ponto de uma escala de 0 a 10. A pesquisa também identificou que, em 11 dos 18 cursos de maior concorrência, os cotistas obtiveram coeficientes de rendimento iguais ou melhores do que os não cotistas. "O exame do desempenho dos estudantes que ingressaram na UFBA, pelo sistema de cotas, revela resultados bastante animadores, nos cursos das diversas áreas de conhecimento", dizem os pesquisadores.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação da UFC – fone: 85 3366 7331 / e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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