Durante seminário, pesquisadores analisam estilo francês de polícia
- Quinta, 05 Novembro 2015 13:52
O “Estilo francês de Polícia” foi o tema da palestra realizada pelos pesquisadores René Levy e Nicolas Fischer, do Centro de Pesquisas Sociológicas sobre Direito e as Instituições Penais (CESDIP) e da Universidade de Versalhes, na França. A palestra fez parte do encontro internacional promovido pelo Laboratório de Estudos da Violência e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Universidade Federal do Ceará, na última terça-feira (3).
O Prof. Levy apresentou um paradoxo das instituições policiais francesas: se, por um lado, o país tem apresentado baixas taxas de violência, por outro, várias pesquisas indicam que a instituição policial enfrenta uma crise de confiança da população.
Inúmeras pesquisas exemplificam essa situação. A taxa de homicídios na França ficou em 1 para 100 mil habitantes em 2003, índice que vem caindo ao longo do tempo (no Brasil, esse índice foi de 32,4 em 2012, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Da mesma forma, os indicadores de mortes cometidas por policiais e de policiais mortos na França também registraram queda.
Na contramão, a imagem da Polícia francesa não é boa. A confiança da população na polícia francesa é a mais baixa entre 22 países pesquisados pela European Social Survey (2002-2008), e o nível de satisfação da população depois de um contato com um policial foi o 13º entre 20 países pesquisados.
Levy relaciona essa imagem negativa à política de controle de identidade realizada principalmente entre a população jovem masculina. As pesquisas indicam uma forte incidência desse controle entre os jovens de origem norte-africana e subsaariana, especialmente os que adotam um estilo “hip hop” nas roupas. Não à toa, a confiança se revelou menor entre os mais pobres e menos educados e nos moradores dos subúrbios. É nesse contexto que se dão alguns momentos de violência popular, como o que se viu nas revoltas de 2005.
Para o professor, o “estilo francês” de polícia se caracteriza por uma postura na qual os policiais se apresentam mais como representantes do Estado do que como protetores da população. Levy destaca alguns elementos que ajudam a manter este distanciamento entre a corporação e a comunidade. Um deles é o modelo de recrutamento nacional, em que os profissionais passam a atuar em áreas de onde eles não são oriundos. Por conta disso, muitas vezes cabe aos menos experientes trabalhar em áreas consideradas mais “difíceis”.
Além disso, Levy destacou o poder dos sindicatos policiais, que têm rejeitado reformas que buscam a melhoria das relações entre a polícia e a população. O pesquisador relatou casos de propostas de reformas na instituição que acabaram sendo rejeitadas pela instituição, com a alegativa de que a comunidade não entende o “papel da polícia”.
Na segunda parte do seminário, o pesquisador Nicolas Fischer abordou os centros de detenção de imigrantes deportados. Os centros são pontos de controle onde ficam imigrantes que serão expulsos do País. Na década de 1970 e 1980, eles foram alvo de fortes críticas de organizações de direitos civis, que o acusavam de funcionar como prisões de imigrantes. Essas organizações supervisionam, desde então, a existência dos centros.
O pesquisador lembra que, a partir dessas pressões, na década passada, a França reforçou o caráter não penitenciário desses centros e a definição dos direitos dos retidos. Em um terceiro momento, entre 2008 e 2010, a presença das organizações militantes nos centros passou a ser atacada.
Fischer explicou o funcionamento dos centros e, mais especificamente, de um onde realizou pesquisa etnográfica. Lá, o pesquisador analisou a relação entre policiais, gestores administrativos e organizações da sociedade civil. Ele também identificou o que classifica de “pontos cegos” do olhar das associações, como o período noturno, com denúncias de abusos que não puderam ser confirmadas.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional – fone: 85 3366 7331