Diversidade étnica e espírito coletivo marcam primeira noite de colação em Fortaleza
- Terça, 02 Agosto 2016 11:00
A primeira noite de colação de grau 2016.1 em Fortaleza, na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará, foi um verdadeiro "documento da raça, pela graça da mistura", como bem disseram Fausto Nilo e Moraes Moreira na canção "Meninas do Brasil", que celebra toda a beleza e diversidade de nosso País multiétnico. São origens e cores que se encontram, se completam. E, juntas, brilham mais.
Nesse caleidoscópio bonito de se ver, teve descendente de família europeia, como o Matheus Gunther Wirtzbiki, concludente de Odontologia, que carrega nos traços e no sobrenome um pouco do avô alemão. Foi um dos primeiros a chegar para a tão aguardada cerimônia. Como um dos principais ganhos dos vários anos de curso, ele aponta justamente o fato de "aprender a conviver com as pessoas". Coisa que não se aprende só com livros e teorias. Aprende-se com o colega que senta ao lado, na sala de aula, no refeitório, no bosque, no ônibus. "A faculdade proporciona enriquecimento e amadurecimento", reflete Matheus.
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Teve também George Simão, que, beirando os 40 anos de idade, conseguiu o tão sonhado diploma universitário, no Curso de Letras do Instituto UFC Virtual. George teve muitos méritos, claro. Mas sabe o que foi fundamental para ele conseguir isso? Ajuda, companhia, incentivo. Amigos. "Estou aqui graças a um conjunto de colegas, porque em um curso semipresencial a gente precisa demais um do outro. Quando tinha alguma dificuldade, a energia das pessoas mais novas me dava mais força", reconhece.
Sabedoria de quem sabe que o tão falado verbo "tolerar" ainda é muito pouco. Bom mesmo é estar próximo, sofrer junto, rir junto, aprender junto. "Pra que somar, se a gente pode dividir?", como já se questionavam Vinicius de Moraes e seu parceiro Toquinho. Ainda em relação à mistura, George dá outra lição, antes de posar orgulhoso para a foto com toda a família: "Sou negro, minha esposa é branca. E meus filhos são mais claros do que eu e mais escuros do que a mãe". Simples assim.
E teve ainda toda a riqueza e tradição da cultura indígena, com a formatura da turma da Licenciatura Intercultural Indígena das Etnias Pitaguary, Tapeba, Kanindé de Aratuba, Jenipapo-Kanindé e Anacé (LII Pitakajá). "É como se fosse uma grande festa em família", definiu o tapeba Estênio Gomes, com a satisfação redobrada de colar grau junto com a mãe, Margarida Gomes.
"Tem coisa que a gente não aprende na universidade, mas sim na família, na aldeia. Então, o que aprendi aqui é uma bagagem a mais e pretendo repassar esse conhecimento para meus alunos em sala de aula", planeja Margarida. Diz que a conquista não é só dela, mas de todos os povos indígenas do Ceará. Porque índio aprende desde cedo que a vida é coletiva e que somos responsáveis pelo todo. Na cabeça, o cocar da tribo dividia espaço com o capelo da formatura, simbolizando o elo cada vez mais forte entre índio e Universidade.
CACIQUE GRADUADA – A cerimônia marcou ainda a colação de Juliana Alves, a cacique Irê, do povo Jenipapo-Kanindé, filha e sucessora de cacique Pequena, a primeira mulher cacique da história no Ceará. "Nossa comunidade se encontra em festa. Lá na nossa escola indígena, os pais sempre falavam da necessidade dos filhos terem professores graduados. Agora vão ter", comemora. Ao fim da cerimônia de colação, os índios emocionaram o público fazendo sua tradicional dança de roda, o toré, que se dança de mãos dadas, como a vida deve ser.
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Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fones: 85 3366 7331, 3366 7936 e 3366 7938