Semiárido não é homogêneo e exige soluções diversificadas, diz pesquisador
- Segunda, 26 Novembro 2018 20:38
O semiárido não é uma região homogênea e, para pensar em soluções para os seus problemas, é necessário compreender essas particularidades. É o que defende o assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Antonio Rocha Magalhães. O pesquisador falou sobre "Desertificação, degradação das terras e secas no Nordeste; Políticas e gestão proativas", durante a 2ª Reunião da Rede Franco-Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável no Semiárido do Nordeste (ReFBN).
Segundo ele, o semiárido brasileiro possui 15 domínios naturais que guardam entre si grandes diferenças. Magalhães apresentou estudos recentes que tratam de diversos aspectos do semiárido, especialmente da seca. "A seca é comum em todo o Brasil, não só no Nordeste. Mas, quando acontece no Nordeste, é muito mais grave, porque é uma região marginal do ponto de vista climático", disse, referindo-se ao fato de que a região já sofre naturalmente com baixo volume de chuvas.
O pesquisador reforçou que a desertificação tem fatores climáticos, mas também socioeconômicos, como o crescimento da população, o desmatamento, entre outros. "Temos que contribuir com a ligação entre a pesquisa e as políticas públicas. Isso é uma coisa muito urgente", avalia.
O chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Semiárido, Flávio de França Souza, reiterou essa diversidade do semiárido, caracterizando-o como uma "colcha de retalhos", por possuir 110 diferentes unidades geoambientais. Ele chamou atenção para o fato de a região possuir 20 milhões de hectares em degradação, e apontou ações que vêm sendo feitas pela Embrapa Semiárido no sentido de mitigar os efeitos da desertificação, como o desenvolvimento de espécies vegetais mais resilientes e o aproveitamento de efluentes salinos.
O chefe da Divisão de Operações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilvan Sampaio, também realizou palestra durante o primeiro dia de reunião da ReFBN, na qual falou das influências de fenômenos naturais nas secas do Nordeste, a exemplo do El Niño e da temperatura dos oceanos nas precipitações. Apontou como as mudanças climáticas do planeta têm afetado a região e mostrou as tendências da elevação de temperatura no Nordeste.
INSTITUIÇÕES FRANCESAS ‒ Representantes de instituições de pesquisa e de órgãos de fomento franceses explanaram sobre articulações e projetos possíveis para o desenvolvimento do semiárido nordestino. Jean-Luc Battini apresentou as atividades do CIRAD ‒ organismo francês de pesquisa agronômica e de cooperação internacional, que atua em vários países promovendo iniciativas para o desenvolvimento sustentável das regiões tropicais e mediterrâneas.
O gestor francês adiantou que, a partir do início de 2019, um cientista vinculado ao órgão atuará durante dois anos na UFC e na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), realizando pesquisas em parceria com pesquisadores locais. Ele destacou ainda a recente assinatura de uma carta de intenções sobre a criação de uma rede de pesquisa franco-brasileira.
Mireille Guyader falou sobre o Departamento de Mobilização para Pesquisa e Inovação (do qual é diretora) do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), instituição francesa que atua há mais de 50 anos no Brasil em pesquisas e ações de desenvolvimento sustentável. "Estamos aqui para fomentar a pesquisa e buscar atender melhor às necessidades do Nordeste", disse Guyader. Ela apontou a necessidade de fortalecer a relação entre instituições de ensino, parceiros econômicos para financiamento e institutos de pesquisa, produzindo estudos de maior impacto sócio-econômico.
Guillaume Chiron e Philippe Orliange expuseram o trabalho da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), braço do governo francês voltado para a cooperação financeira com governos de outros países. Eles falaram sobre a vontade de contribuir para o desenvolvimento da agricultura familiar, de forma sustentável, com respeito ao meio ambiente e conectada ao mercado.
Orliange disse que a Agência tem grande potencial para crescer no Nordeste. O foco, segundo ele, é investir em projetos que estejam inseridos no contexto de transição para a agroecologia ‒ que, em linhas gerais, consiste na prática da agricultura de maneira ambiental, social, cultural e economicamente sustentável. O representante da AFD disse ainda que a conexão entre pesquisa, financiamento e execução por meio de políticas públicas tende a ser a base da parceria entre França e Brasil nos projetos no Nordeste.
A ReFBN segue nesta terça-feira (27). Na ocasião, haverá oficinas com os seguintes temas: Água e gestão dos recursos hídricos; Solos, transição agroecológica, biodiversidades; e Dinâmicas sócio-econômicas. Também será definido e criado o Comitê Executivo da rede ReFBN.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional ‒ fone: 85 3366 7331