Curso de Geologia e instituto alemão firmam parceria para estudo na Bacia do Araripe
- Quinta, 07 Fevereiro 2019 09:08
O projeto Towards an Integrated Analysis of the Early Cretaceous Crato Fossil Lagerstaette – Ceará, Brazil (Rumo a uma Análise Integrada da Lagerstaette Fóssil Crato do Cretáceo Inferior – Ceará, Brasil), coordenado pelo professor Daniel Rodrigues do Nascimento Júnior, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará, foi aprovado no Programa PROBRAL, que prevê o intercâmbio científico entre grupos de pesquisa brasileiros e alemães.
O estudo, a ser realizado na chamada Crato Fossil Lagerstaette (CFL), da Bacia do Araripe, foi o único aprovado nas regiões Norte e Nordeste do País.
O Programa PROBRAL é uma parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) para a execução de projetos de pesquisa em conjunto por instituições de pesquisa e pós-graduação brasileiras e alemãs.
Explica o Prof. Daniel Nascimento que o trabalho terá foco na análise de fósseis já localizados, bem como na compreensão do ambiente em que foram encontrados. "Achar um fóssil, especialmente um que seja importante, é como uma loteria. No entanto, o constante trabalho dos pedreiros da região na obtenção da pedra cariri (tipo de calcário comercialmente usado como revestimento de pisos e piscinas) ajuda a encontrar novos fósseis. Uma coisa que só pode ser feita em campo é a descrição, organização e interpretação da distribuição espacial das rochas e dos fósseis, o que é fundamental nesse tipo de estudo", detalha.
A parceria internacional envolve o Instituto Senckenberg, da Alemanha, referência mundial na pesquisa paleontológica, cujo Memorando de Entendimento com a UFC remonta a 2015. Desde então, pesquisadores brasileiros e alemães têm cooperado em pesquisas na região da Bacia do Araripe, mais conhecida pelo famoso relevo da chapada e pelo entorno na região do Vale do Cariri cearense.
A equipe alemã é formada pelos pesquisadores Lutz Kunzmann e Dieter Uhl, estudiosos em paleoflora. Do lado brasileiro integram a equipe os professores do Departamento de Geologia da UFC Wellington Ferreira, que realiza pesquisas com estratigrafia (estudo da organização das camadas de rochas), e Márcio Mendes, que trabalha com paleoentomologia (estudos de insetos fósseis).
Contribui ainda com o projeto Roberto Iannuzzi, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador com larga experiência em plantas fósseis e tafonomia (estudo dos processos que levam à decomposição e fossilização).
Previsto para durar quatro anos (2019-2022), o projeto incluirá, nos dois países, missões de estudo de doutorandos e pós-doutorandos, missões de trabalho de pesquisadores da equipe, workshops, trabalhos de campo e outras atividades. O Prof. Daniel Nascimento comenta sobre os impactos positivos para a pesquisa em geologia no Ceará a partir dessa colaboração internacional. "Esperamos a transferência de conhecimento mútuo não apenas no campo estritamente paleontológico, mas também no estudo de bacias sedimentares. Por exemplo, a Bacia do Araripe possui um intervalo análogo ao das famosas camadas pré-sal das bacias petrolíferas do Brasil; por isso e por ser muito mais fácil de ser acessada, interessa fortemente como modelo de exploração para essas bacias", explica.
O professor da UFC destaca também o impacto do estudo no campo da educação ambiental. "Vale ressaltar o status que dá ao Geopark Araripe como área de interesse na educação e também o estímulo que oferece à conservação desse patrimônio natural de mais de 100 milhões de anos", enfatiza Daniel Nascimento.
CRATO FOSSIL LAGERSTAETTE – Mundialmente reconhecida por sua rica biota, de uma época conhecida como Cretáceo Inferior (cerca de 110 milhões de anos atrás), a região é classificada como lagerstaette, ou seja, um tipo de jazigo fossilífero de classe mundial, destacado por sua importância em diversidade e número de espécimes fósseis.
Nos jazigos lagerstaette podem ser encontrados peixes, plantas, insetos, crustáceos, aracnídeos, quelônios (répteis como tartarugas, cágados e jabutis), lagartos e pterossauros, além de microfósseis. Essa importância foi reconhecida pela UNESCO em 2006 com a criação do Geopark Araripe, o primeiro das Américas.
Fonte: Prof. Daniel Nascimento, do Curso de Geologia – fone: 85 3366 9867