Cientistas discutem alternativas de financiamento e de comunicação com a sociedade
- Segunda, 24 Junho 2019 17:11
Fazer ciência com qualidade e ética deixou de ser o único desafio de pesquisadores de todo o mundo. Atuar na busca por financiamento e numa comunicação mais próxima com a sociedade passa a ser visto, agora, como papel imprescindível da comunidade científica.
É para discutir alternativas e ferramentas para o cumprimento desse novo papel que jovens pesquisadores de todo o Brasil estão em Fortaleza, até quarta-feira (26), no 4º Encontro Nacional de Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências. O evento foi aberto na manhã desta segunda-feira (24), no Hotel Luzeiros, com a presença de autoridades locais e nacionais da área da ciência e tecnologia e do reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Prof. Henry Campos.
A crença na proatividade dos pesquisadores frente a uma conjuntura de contingenciamento de recursos e de críticas por parte de alguns setores sociais acabou dando o tom dos discursos na primeira manhã do evento.
De acordo com a palestrante Sandra López Vergès Gorgas, da Global Young Academy, 32% da população na América Latina diz ter baixa confiança na ciência, percentual considerado alto. Porém, segundo ela, há várias formas de fazer frente a esse dado. Balancear a pesquisa com o trabalho de comunicação científica, abrir as portas para jornalistas, saber contar histórias utilizando-se de infográficos e de uma linguagem acessível para falar com as comunidades e explorar o potencial das redes sociais aparecem como alternativas.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, acrescentou a importância de que a comunidade de pesquisadores reforce, em sua comunicação com a sociedade, as peculiaridades e o rigor do método científico, dos experimentos e debates que culminam na elaboração de uma teoria, e das etapas do processo de produção do conhecimento que nem sempre são acessíveis e claros para a população.
“Em tempos de fake news, precisamos falar com a população e buscar parcerias privadas e apoio internacional, mostrando que vale a pena correr atrás. Isso não significa perder uma visão crítica sobre o atual momento. Mas é essencial mostrar para a sociedade o nosso papel e dar retorno à população sobre o investimento feito na ciência”, complementou a Profª Carolina Horta, membro do Comitê Científico do evento.
“Vocês têm a missão de serem ouvidos. Não tem por que ficar calados. Vocês estão produzindo o conhecimento que define a nossa identidade. Buscar entender o mundo por meio da ciência é um valor que define um país, um povo. Por isso, o que vocês fazem é absolutamente importante”, considerou Hugo Aguilaniu, presidente do Instituto Serrapilheira, entidade privada de financiamento científico.
RESISTÊNCIA NA EXCELÊNCIA – Todos os convidados da abertura do evento fizeram menções ao momento de dificuldades na ciência devido ao contingenciamento de recursos financeiros. Por outro lado, destacaram o fato de a quase totalidade da pesquisa científica produzida no Brasil ser oriunda de universidades públicas.
O reitor da UFC, Prof. Henry Campos, declarou que a Universidade “tem resistido”, sobretudo ao mostrar para a sociedade sua excelência. Ele lembrou, por exemplo, que a UFC é a 1ª instituição brasileira na proporção de artigos entre os 10% mais citados no mundo. Na última semana, a UFC foi classificada como a 19ª melhor Universidade da América Latina no ranking da Times Higher Education. “Uma reunião como essa renova nossas esperanças e traz forças para que continuemos na luta”, disse o reitor.
A necessidade de um maior protagonismo do setor científico foi reconhecida pelo assessor especial do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Aristides Pavani Filho. “O conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de um País e para que o povo possa receber isso em forma de melhorias e riquezas. Nosso desafio é tirar o Ministério de uma posição inferior e trazê-lo ao protagonismo, puxando o setor de pesquisas no Brasil. Nossa ideia é buscar esse protagonismo em parceria com outros ministérios, que sempre têm algo relacionado com a pesquisa”, afirmou Pavani.
Várias outras autoridades prestigiaram a reunião e aprofundaram o discurso em defesa da ciência, dentre os quais o secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, Inácio Arruda; o presidente da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), Tarcísio Pequeno; o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich; e o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), Jorge Guimarães.
O evento é promovido pela ABC, em coorganização com a UFC. Ao final do encontro, o resultado das ideias surgidas nos grupos de trabalho será apresentado pelos relatores e integrantes do Comitê Científico do evento, compondo um documento final.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fone: (85) 3366 7331