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Poluição no ar de Fortaleza impacta o orçamento público de saúde, aponta estudo da UFC

Capa da revista Atmosferic EnvironmentInvestigar a relação entre poluição atmosférica, doenças cardiorrespiratórias e consequentes custos de internação para a saúde pública é o objetivo do artigo "Health impact assessment of air pollution in the metropolitan region of Fortaleza, Ceará, Brazil" ("Avaliação do impacto na saúde oriundo da poluição do ar na Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará, Brasil", na tradução) que integra a edição de julho da revista Atmospheric Environment, uma das mais conceituadas na área de Ciências da Atmosfera. O estudo contou com pesquisadores de quatro unidades acadêmicas da Universidade Federal do Ceará: Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), Centro de Tecnologia, Centro de Ciências e Centro de Ciências Agrárias.

Assinam o texto os professores Rivelino Cavalcante, do Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos/LABOMAR; Kamila Mendonça, do Laboratório de Economia, Direito e Sustentabilidade/LABOMAR; Elisa Zanella, do Departamento de Geografia; Bruno Bertoncini e Verônica Castelo Branco, ambos do Departamento de Engenharia de Transportes. Colaboraram ainda o pós-doutorando em Engenharia de Transportes Jefferson Ribeiro, e a egressas Camille Rocha, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA); Joyce Lima, do Curso de Gestão de Políticas Públicas; e Elissandra Marques, egressa do Curso de Ciências Ambientais, e agora doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da UFC.

Explorando os dados da poluição na atmosfera de Fortaleza e Região Metropolitana entre os anos de 2015 a 2017, o artigo analisa cenários de possíveis reduções de material particulado presente no ar da Capital e as repercussões dessa diminuição para a saúde pública. O material particulado (PM, de particulate matter, em inglês) é uma mistura de partículas sólidas e líquidas encontrado com frequência na atmosfera das cidades, sendo formado por íons inorgânicos, substâncias orgânicas, metais e até elementos biológicos como fungos e bactérias.

Composto por partículas ultrafinas (PM0.1), finas (PM2.5) e grosseiras (PM10), o material particulado é classificado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como carcinogênico, ou seja, que favorece o surgimento de câncer. Há ainda na literatura científica registros dos efeitos negativos para a saúde humana do material particulado apresentado em partículas finas (PM2.5) e grosseiras (PM10), sendo responsável pelo aumento do risco de arritmia cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio, doenças pulmonares e asma.

CENÁRIOS – Para mensurar o impacto desses poluentes sobre a saúde, os pesquisadores levaram em consideração os níveis de partículas finas (PM2.5) e grosseiras (PM10) do material particulado, entre 2015 a 2017 em Fortaleza e Região Metropolitana. Com isso, calcularam cenários em que a redução de curto prazo de 5 microgramas (um milionésimo de grama) por metro cúbico de ar das partículas grosseiras (PM10) teria evitado mais de 130 hospitalizações relacionadas a doenças cardiorrespiratórias, e a redução de 20 microgramas por metro cúbico de ar dessas mesmas partículas teria evitado 410 internações. Isso representaria uma economia de US$ 62 a 191 mil (a preços de junho de 2018), respectivamente.

Em outras perspectivas apresentadas pelo estudo, é avaliada a redução de longo prazo de 5 e de 10 microgramas por metro cúbico de ar das partículas finas (PM2.5). Com esse decréscimo de poluentes no ar da região estudada seriam evitadas de 200 a mais de 580 hospitalizações, respectivamente. O correspondente em cifras seria de US$ 780 milhões a até 2 bilhões (a preços de junho de 2018) com custos de saúde.

Os valores estimados consideram os potenciais benefícios para a saúde no número de hospitalizações e das mortes evitadas. Em termos monetários, o valor de cada ano de vida perdido por morte prematura é de US$ 58.375 (a preços de junho de 2018), valor indicado pela OMS e pelo Banco Mundial. Quando analisada a redução dos níveis de poluentes no longo prazo, são considerados os anos de vida que são recuperados ao se evitar a morte prematura. Os ganhos em anos de vida, portanto, com a redução de 5 microgramas por metro cúbico de ar para partículas finas (PM2.5) seriam 13,3721 anos, e, com redução de 10 microgramas por metro cúbico de ar, seriam 38,3713 anos para a população acima de 30 anos de idade.

Como ferramenta para auxiliar na construção desses cenários preditivos o grupo de cientistas usou a metodologia Avaliação de Impacto na Saúde (HIA), preconizada pela Organização Mundial da Saúde. Em Fortaleza, foi aplicado o modelo APHEKOM (Improving knowledge and communication for decision making on air pollution and health in Europe), utilizado em diversas cidades do continente europeu e recentemente adaptado para cidades brasileiras como São Paulo e Diadema.

MOBILIDADE – Por suas características geográficas, Fortaleza, segundo os pesquisadores, ainda possui relativas vantagens quanto à concentração de material poluente na atmosfera quando comparada a outras metrópoles brasileiras. Um dos fatores mais influentes, destacam, é a velocidade dos ventos como agente dispersante do material particulado. Esse panorama, no entanto, pode não se prolongar por muito tempo devido à excessiva verticalização na cidade. Por isso, é cada vez mais importante o planejamento de políticas públicas de mobilidade urbana para o controle das emissões humanas, aponta o artigo.

Nesse sentido, o estudo enfatiza que o compartilhamento de veículos e ações existentes do Plano de Mobilidade de Fortaleza (PLANMOB), como o Sistema de Bicicletas Compartilhadas (BICICLETAR), o Programa de implantação de faixas exclusivas, bem como o Programa Despoluir da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Ceará (FETRANS), despontam como influentes na qualidade do ar em Fortaleza. "A Organização Mundial da Saúde incentiva esse tipo de estudo por achar que, a partir da divulgação desses dados, os gestores públicos possam se sensibilizar e considerar essa agenda prioritária devido aos altos custos de internações influenciados pela diminuição da qualidade do ar, especialmente em áreas urbanas", comenta o Prof. Rivelino Cavalcante, que integra o grupo autor da pesquisa.

Fonte: Prof. Rivelino Cavalcante, do Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos do LABOMAR/UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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