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Estudo sugere antecipar vacinação contra gripe no Ceará, especialmente para mulheres grávidas

Resultados de um estudo realizado por pesquisadores do Núcleo de Biomedicina (NUBIMED), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, sugerem que o período de vacinação anual contra a gripe no Ceará deveria ser antecipado, especialmente para mulheres grávidas. Isso porque, conforme demonstrou a pesquisa, a manifestação de infecção respiratória aguda grave durante a gravidez eleva o risco de que os bebês nasçam de forma prematura e com menor peso.

O estudo, publicado na revista Emerging Infectious Diseases ‒ vinculada ao renomado Center of Diseases Control, dos Estados Unidos ‒ é um desdobramento da dissertação de José Quirino Filho, mestre em Saúde Pública pela UFC, sob orientação do Prof. Álvaro Jorge Madeiro Leite. Atualmente, Quirino é estudante do doutorado em Ciências Médicas, também na UFC.

Imagem: Mulher grávida deitada; ao lado, uma profissional de saúde passa um instrumento sobre a barriga da mulher e acompanha as imagens que aparecem em um monitor (Foto: Agência Brasília)

O trabalho foi desenvolvido em colaboração com uma rede nacional e internacional de pesquisadores (no âmbito do programa CAPES-PRINT/UFC), incluindo o Prof. Aldo Ângelo Moreira Lima, coordenador do NUBIMED e do projeto de pesquisa INFLUEN-SA Brazil – financiado pelo Programa Grand Challenges Explorations, com recursos da Fundação Bill e Melinda Gates, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Também participaram como instituições parceiras a Secretaria da Saúde do Ceará (SESA) e o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (LACEN).

Ouça também notícia da rádio Universitária FM sobre o estudo

CONTEXTO ‒ Para compreender o resultado da pesquisa, primeiramente é importante entender o seguinte contexto. Gripe é o nome popular da doença cujo termo técnico usado pelos médicos é influenza. Refere-se a uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório, com taxa de transmissão elevada e distribuição global. Durante surtos epidemiológicos, as infecções podem evoluir e acarretar hospitalizações e até mortes, principalmente entre os grupos de maior risco (como crianças, idosos e gestantes). Por isso a influenza é preocupante para as autoridades sanitárias.

A ciência já demonstrou que existe relação entre o número de casos de gripe e a chegada do inverno. No Brasil, as campanhas de vacinação ocorrem anualmente nos meses de abril a junho, de forma a coincidir com o início do inverno no hemisfério sul (que acontece em junho).

Porém, por fatores climáticos, há regiões do País em que as estações do ano não são bem definidas, sobretudo nas áreas mais próximas à Linha do Equador, como é o caso do Ceará. No estado, a chamada quadra chuvosa é de fevereiro a maio.

Imagem: Gráfico mostrando dados sobre quadra chuvosa, vacinação e casos de gripe (Imagem: Divulgação)

"Como a vacinação contra a gripe tem um único calendário nacional, as campanhas no Ceará começam somente após o início da quadra chuvosa, ou seja, quando os casos de influenza já estão aumentando", explica o Prof. Aldo Lima. Os pesquisadores, então, partiram da seguinte dúvida: o atual plano brasileiro de vacinação protege adequadamente contra a influenza no estado do Ceará?

DADOS DA PESQUISA ‒ Para responder à pergunta, as gestantes foram escolhidas como grupo de interesse, por estarem no grupo de pessoas prioritárias para ser vacinadas. As avaliações se estenderam sobre os desfechos da vacinação até o nascimento dos bebês. Para isso, foram analisados registros oficiais sobre casos de influenza e sobre recém-nascidos no Ceará de 2013 a 2018. Nos registros hospitalares, casos de influenza são classificados como uma infecção respiratória aguda grave (SARI, na sigla em inglês). Nesse período, foram notificados 3.297 casos de SARI, dos quais 145 ocorreram em mulheres grávidas, correspondendo a 4% dos casos.

A partir desses números, avaliou-se nos filhos as consequências da mãe ter tido SARI durante a gravidez. Os dados foram comparados com os de filhos de mães saudáveis, que não tiveram SARI durante a gestação.

"O resultado foi surpreendente em dois aspectos principais: a taxa de bebês prematuros aumentou de 10,7% nas mães sem SARI para 15,5% nas mães com SARI, ou seja, nasceram mais bebês com menos de 37 semanas de gestação quando as mães manifestaram SARI na gestação", destaca Lima. Além disso, crianças filhas de mães que tiveram SARI nasceram com menor peso do que as crianças filhas de mães que não tiveram SARI. Enquanto as 122 crianças nascidas de mães que não tiveram SARI pesaram 3,2 quilos em média, as 61 crianças nascidas de mães com SARI pesaram em média 2,8 quilos ao nascimento.

Imagem: Gráfico mostrando dados sobre quadra chuvosa, vacinação e casos de gripe, mostrando que o período de vacinação deveria ser antecipado para janeiro (Imagem: Divulgação)

De acordo com os pesquisadores, as diferenças nesses parâmetros são observadas em fevereiro, durante o período da estação chuvosa no Ceará, ano após ano, mostrando provável relação entre o início da estação chuvosa, casos de SARI e repercussões no nascimento. Por isso, os autores indicam que, para o bem-estar das mães e dos seus futuros filhos, é necessário rever o início da vacinação no Ceará, antecipando-o para janeiro, antes do início da quadra chuvosa.

Pela UFC, além de José Quirino Filho e dos professores Álvaro Leite e Aldo Lima, assinam o artigo José Filho, Francisco Junior, Alberto Soares; pela SESA assina Thaisy Lima, e pelo LACEN assinam Vânia Viana e Jaqueline Burgoa. O artigo é assinado ainda por seis pesquisadores da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos: Simone A. Herron, Hunter L. Newland, Kunaal S. Sarnaik, Gabriel F. Hanson, Jason A. Papin e Sean R. Moore.

Fonte: Prof. Aldo Ângelo Moreira Lima, coordenador do NUBIMED e um dos autores do artigo ‒ e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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