Grupo de Educação e Estudos Oncológicos capta quase R$ 10 milhões para pesquisas sobre câncer
- Quinta, 24 Março 2022 16:04
O Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (GEEON), projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), captou quase R$ 10 milhões para financiamento de duas pesquisas sobre câncer por meio do Programa Nacional de Oncologia (PRONON). Esses foram os únicos projetos contemplados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O primeiro estudo visa identificar mutações que provocam câncer de mama agressivo em mulheres que vivem em comunidades quilombolas no Ceará e vai receber R$ 3,9 mihões. O segundo busca desenvolver marcadores para diagnóstico da síndrome mielodisplásica, tipo de câncer que atinge a medula óssea. A pesquisa também objetiva produzir fármacos para o tratamento da doença. Serão R$ 5,8 milhões repassados para compra de equipamentos neste projeto.
ESTUDO COM QUILOMBOLAS – De acordo com o presidente do GEEON, Prof. Luiz Porto, a ideia da pesquisa surgiu a partir de uma paciente do quilombo dos Caetanos, em Tururu, que narrou que a mãe e duas irmãs morreram de câncer de mama.”E ela realmente tinha câncer bilateral, era um câncer agressivo, comum nas mutações familiares”, explicou Luiz Porto.
Mesmo com o resultado negativo no tratamento da paciente, o caso despertou a atenção da equipe, que passou a observar situações semelhantes em mulheres negras de um quilombo de Maranguape que também buscaram atendimento no GEEON.
Ao ser feita a análise genética do material, realizada pela pesquisadora e geneticista do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) Danyelle Craveiro, foram observadas as mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que predispõem ao desenvolvimento do câncer. O primeiro tipo foi o mesmo identificado na atriz norte-americana Angelina Jolie, o que a levou a fazer uma retirada preventiva das mamas.
A pesquisadora, ao participar de um congresso nos Estados Unidos, foi informada pela pesquisadora da Universidade de Chicago Funmi Olopade que essas mutações são comuns na região da Nigéria. Assim, a equipe passou a trabalhar com a hipótese de que a mutação veio junto com negras trazidas forçadamente ao Brasil para serem escravas.
Confira entrevista do Prof. Luiz Porto à UFCTV em que apresenta detalhes de como o levantamento será feito nas comunidades quilombolas.
LEVANTAMENTO – Com a obtenção dos recursos, agora o objetivo dos pesquisadores é fazer um levantamento com mais de 4 mil famílias distribuídas em 73 comunidades quilombolas existentes em cerca de 50 cidades do Ceará. O trabalho será realizado por meio de rastreamento com exames nas mulheres com mais de 40 anos ou com faixa etária menor, desde que apresentem sintomas. “A gente estima que deve ter pelo menos 20 mil mulheres que vão ser estudadas no período de três anos”, projetou Luiz Porto.
SÍNDROME MIELODISPLÁSICA – O dinheiro obtido no segundo projeto será usado na compra de equipamentos e nos estudos para desenvolvimento de marcadores que vão auxiliar na identificação precoce desse tipo de câncer e também no estudo de fármacos para o tratamento da doença.
Segundo o professor do Departamento de Medicina Clínica e coordenador do Laboratório de Citogenômica do Câncer da UFC, Ronald Feitosa Pinheiro, esse é o câncer de medula mais comum em idosos no mundo ocidental e, nessa faixa etária, sem possibilidade de tratamento. Mesmo em pacientes mais jovens, as opções terapêuticas atuais possuem eficácia de apenas 20% a 25%. “Então a UFC vai nesse momento despontando na possibilidade de pesquisa de um novo fármaco”, comemorou.
O trabalho será feito em parceria com o Laboratório de Oncologia Experimental (LOE), coordenado pela Profª Cláudia do Ó Pessoa.
Confira entrevista do Prof. Ronald Feitosa Pinheiro à UFCTV em que explica os próximos passos do estudo.
PESQUISAS NA UFC – A obtenção de recursos foi comemorada em reunião no Gabinete do Reitor na manhã de quarta-feira (23). O reitor da UFC, Prof. Cândido Albuquerque, ressaltou a importância dessa conquista: “Isso mostra que nós estamos aumentando a nossa capacidade de conseguir recursos para pesquisa [...] É a universidade gerando conhecimento”.
O diretor da Faculdade de Medicina da UFC (FAMED/UFC), Prof. João Macedo, avaliou que os projetos também deixarão um legado importante na formação de recursos humanos. “Esses projetos possibilitam o treinamento de jovens cientistas, pesquisadores e pós-graduandos”, exemplificou. Ele informou que as pesquisas e equipamentos adquiridos vão beneficiar posteriormente a população atendida no Complexo Hospitalar da UFC/EBSERH. Também participaram do encontro o vice-reitor da UFC, Prof. Glauco Lobo, e a pró-reitora de Extensão da UFC, Profª Elizabeth Daher.
Assista à entrevista do Prof. João Macedo à UFCTV em que ressalta a importância da pesquisa com quilombolas, que ocorrerá tanto em laboratórios como diretamente nas comunidades.
Fontes: Prof. Luiz Porto – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; e Prof. Ronald Feitosa Pinheiro – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.