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Projeto promove ações para qualificar atendimento em saúde mental em unidades de atenção primária

Promover e manter a saúde mental, especialmente da população usuária da rede pública, tem sido um dos maiores desafios do Brasil. Na Universidade Federal do Ceará, o projeto de extensão Apoio Matricial em Saúde Mental na Atenção Primária, vinculado ao Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina (FAMED), contribui com ações para tornar mais qualificado o atendimento multiprofissional e integrado a pessoas com queixas relacionadas a saúde mental, no âmbito da atenção primária de saúde (APS).

O apoio matricial (também denominado matriciamento) é considerado um modo inovador de atenção à saúde que vem sendo utilizado em unidades da rede pública do País. Tem como base a cooperação entre uma equipe especializada em saúde mental e profissionais da Estratégia de Saúde da Família. “Duas ou mais equipes compartilham a formulação de proposições de intervenção terapêutica, possibilitando um cuidado, em colaboração, entre a saúde mental e a atenção primária”, como explica o psiquiatra e coordenador do projeto, Prof. Eugênio de Moura Campos, da UFC.

Imagem: O Prof. Eugênio de Moura Campos (na imagem, de chapéu) coordena o projeto que envolve equipe multiprofissional, além de médicos residentes e estudantes de Medicina da UFC (Foto: Divulgação)

Entre as atividades desenvolvidas pelo projeto, iniciado em 2014, ele cita consulta conjunta, discussão de casos entre os integrantes das equipes multiprofissionais, realização de seminários e capacitações, como o treinamento de profissionais não especialistas (TOHP – Training of Health Professionals) e o Treinamento de Instrutores e Supervisores (TOTS – Training of Trainers and Supervisors). Com isso, o atendimento à população pode se dar de modo mais integrado e eficiente.

Atualmente o projeto de extensão Apoio Matricial em Saúde Mental desenvolve-se nas seguintes Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), ligadas à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza: UAPS Anastácio Magalhães (rua Delmiro de Farias, 1670, Rodolfo Teófilo); UAPS Centro de Desenvolvimento Familiar (CDFAM) Prof. Gilmário Mourão Teixeira (rua Pernambuco, 1674, Pici), localizadas no âmbito da Secretaria Regional (SER) III ; e UAPS Irmã Hercília (rua Frei Vidal, 1821, São João do Tauape), na SER II.

Além do Prof. Eugênio de Moura Campos, integram o projeto uma psiquiatra e outros profissionais da equipe de saúde mental do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da UFC; uma psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral da SER-III; médicos residentes de psiquiatria do HUWC; residentes da residência multiprofissional em saúde mental do HUWC; e alunos do Curso de Medicina da UFC.

METODOLOGIA – Conforme detalhou o Prof. Eugênio Campos, o trabalho em benefício da população se dá envolvendo a equipe matriciadora (EM) em saúde mental, que presta apoio assistencial e pedagógico a equipes de referência (ERs) da Estratégia de Saúde da Família, a partir de demandas destas.

O atendimento ao público ocorre através de agendamentos semanais de pacientes ou familiares. Membros da EM avaliam cada caso em particular ou realizam consulta conjunta com a ER a fim de estabelecer um projeto terapêutico compartilhado. A condução do tratamento ficará a cargo da ER com o acompanhamento e suporte da EM.

São realizados também seminários quinzenais para discussão de temas de saúde mental de acordo com as necessidades das ERs. O coordenador destaca que os estudantes de Medicina e residentes de Psiquiatria e Saúde Mental participam de todas as etapas do processo.

COOPERAÇÃO – O projeto proporciona valiosas trocas entre os profissionais atuantes na rede pública de saúde e os integrantes do meio acadêmico. Como explicou o coordenador, o projeto de extensão “presta-se a fornecer suporte assistencial e pedagógico a profissionais das equipes de saúde da família e permite a estudantes, residentes de Psiquiatria e Saúde Mental vivenciar essa prática. Espera-se que os profissionais e estudantes envolvidos adquiram e agreguem habilidades para atuar nessa área de atividade, favorecendo o desempenho de uma melhor assistência e ampliando o atendimento às necessidades da população”.

Kawê Viana Monteiro, aluno do 11º semestre do Curso de Medicina da UFC, participou do projeto no ano passado. Para ele, a experiência será fundamental para sua prática médica “ao oferecer uma visão abrangente e integrada do cuidado aos pacientes psiquiátricos, por meio da colaboração entre a psicologia, psiquiatria e enfermagem”.

Como atento observador, ele conta que acompanhou as discussões de casos, desenvolveu habilidades para trabalhar em equipe e compreendeu a complexidade dos transtornos mentais, ampliou os conhecimentos sobre prevenção e promoção da saúde mental e adquiriu uma perspectiva mais sensível e empática para lidar com os pacientes. “Nesse papel, tive a valiosa oportunidade de absorver conhecimento, esclarecer dúvidas e aprofundar minha compreensão sobre os casos abordados”, destaca.

Imagem: Fazem parte do projeto, treinamentos na área de saúde mental para profissionais de Unidades Básicas de Saúde em Fortaleza (Foto: Divulgação)

TREINAMENTOS – Como uma das atividades do projeto, em maio e junho últimos, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, foi ministrado o treinamento de profissionais não especialistas, com duração de 20 horas, para 70 profissionais de saúde que atuam em APS nas Secretarias Regionais I, II e III de Fortaleza.

Para setembro próximo, estão previstas capacitações de outras equipes da APS das regionais mencionadas, além do início de outros treinamentos com os profissionais das Regionais IV, V e VI. Até o fim do ano, a meta é treinar 420 profissionais e expandir as ações para todas as regionais, colaborando, assim, com a ampliação e consolidação do matriciamento em saúde mental na atenção primária à saúde.

O médico Luís Lopes Sombra Neto, residente de Psiquiatria do HUWC e mestre em Saúde da Família pela Fundação Oswaldo Cruz no Ceará (FIOCRUZ-CE), participa do projeto como organizador e facilitador da capacitação. Os treinamentos, informa, envolvem uma equipe multiprofissional de facilitadores composta por psiquiatra, médico residente de psiquiatria, enfermeiros, psicólogos, profissional de educação física, terapeuta ocupacional e assistente social.

“Diante da lacuna existente entre a alta prevalência de transtornos mentais na população e a limitação no investimento de recursos financeiros e humanos nos serviços públicos especializados em saúde mental, emerge a necessidade de capacitar os profissionais de saúde na avaliação, manejo e seguimento dos usuários com transtornos mentais e de integrar os serviços de atenção primária com a atenção especializada por meio do matriciamento em saúde mental”, considera ele.

Acrescenta que o projeto como um todo “contribui na redução dessa lacuna nos cuidados em saúde mental por qualificar o atendimento dos profissionais, construir cuidados colaborativos em equipe multiprofissional, propor estratégias da organização da rede de atenção psicossocial e integrar a APS com a atenção especializada”.

CONHECER A REALIDADE – A psicóloga Suzette de Oliveira Siqueira Telles Alves, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral da SER II participou do treinamento no primeiro semestre. Para ela, “a participação foi de suma importância, visto que os participantes envolvidos eram profissionais que estavam em vários dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), principalmente das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de referência”.

Ela reconhece que a partir do treinamento teve a chance de ampliar sua visão. “Tive a oportunidade de conhecer a realidade e dificuldades do meu território e pensar, não apenas através do meu serviço mas com outras realidades de outros serviços de saúde, em como fazer e construir esse cuidado dentro de vários dispositivos, respeitando as particularidades e necessidades de cada território (regional)”.

Ela destaca que “o cuidado integral em saúde [no caso saúde mental] não se resume a apenas um dispositivo de saúde, mas a toda uma rede de cuidados, de acordo com a necessidade de nosso usuário. Então o compartilhamento e corresponsabilização desse cuidado, a aproximação das realidades, rotinas de cada serviço e o pensar junto na construção de uma melhor efetivação de comunicação e processos de trabalho, através do matriciamento, foi uma experiência muito rica”.

Fonte: Prof. Eugênio de Moura Campos, coordenador do projeto de extensão Apoio Matricial em Saúde Mental na Atenção Primária – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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