Pesquisas revelam bairros de Fortaleza com maiores incidências de COVID-19 e riscos de contágio da doença
- Sexta, 24 Abril 2020 18:32
Atenta à pandemia causada pelo novo coronavírus e às indicações de isolamento social como estratégia de enfrentamento da doença, a Universidade Federal do Ceará tem desenvolvido diversas pesquisas para mapear os bairros de Fortaleza a partir de critérios como número de casos suspeitos e confirmados da COVID-19 e deslocamentos e aglomerações de pessoas durante a quarentena. Os resultados contribuem para a observação do comportamento da população durante esse período e para o desenvolvimento de estratégias de combate à doença.
É o caso, por exemplo, do estudo Propensão à epidemia grave de COVID-19 da população residente em bairros do município de Fortaleza, que, a partir da análise de 119 bairros da cidade, destacou os potencialmente mais atingidos pela epidemia grave: Aldeota, Cais do Porto, Vicente Pinzon, Praia do Futuro I e II, Arraial Moura Brasil, Barra do Ceará, Canindezinho, Centro, Cristo Redentor, Edson Queiroz, José de Alencar, Presidente Kennedy, Papicu e Vila Velha.
A análise foi produzida por pesquisadores dos departamentos de Saúde Comunitária, de Engenharia de Transportes e de Geografia da UFC, juntamente com especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em parceria com a Prefeitura Municipal de Fortaleza. Coordenado pelo Prof. José Ueleres Braga, da UERJ, o estudo teve o objetivo de classificar os bairros que “têm maior propensão de epidemia grave da COVID-19 ao longo de todo o período epidêmico” para subsidiar a adoção de medidas de vigilância, prevenção, controle e atenção à saúde no município.
A pesquisa foi baseada na análise de três indicadores: carga de infectividade (casos confirmados da COVID-19 notificados à Secretaria Municipal de Saúde até o dia 12 de março); carga de infecção (medida a partir da combinação da carga de infectividade e da mobilidade populacional entre os bairros da Capital); e índice de vulnerabilidade epidêmica populacional (estabelecido a partir de indicadores sociodemográficos como proporção de população analfabeta, pessoas em extrema pobreza, domicílios sem água e banheiro, proporção de desempregados).
Integrante do estudo, o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, Prof. Alberto Novaes Ramos Júnior, aponta que o escore de propensão à epidemia grave foi calculado a partir da combinação da carga de infecção com o índice de vulnerabilidade epidêmica populacional, sendo trabalhadas ainda duas abordagens de análises: a aditiva e a multiplicativa.
“A abordagem aditiva considera que a carga de infecção acrescenta adicionalmente, em soma, a vulnerabilidade epidêmica para a obtenção do escore de propensão. No caso da abordagem multiplicativa, o efeito é potencializado sinergicamente e estimado pela multiplicação dos dois índices, o que traz uma abordagem mais sensível da propensão à epidemia grave”, explica.
Além de indicar quais os bairros mais propensos à epidemia grave, os pesquisadores ainda apresentaram à Prefeitura Municipal de Fortaleza algumas recomendações, tais como: reconhecimento dos casos da COVID-19 e investigação dos contatos; adoção de medidas para redução da mobilidade populacional nos bairros; oferta e garantia de testes para diagnóstico da COVID-19; e atuação das equipes de atenção primária à saúde no desenvolvimento de ações específicas dentro de seu território.
AGLOMERAÇÕES – O deslocamento de pessoas em Fortaleza, por sua vez, foi alvo de investigação de pesquisadores do Laboratório de Estudos em Política, Educação e Cidade (LEPEC), vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFC. A pesquisa A Vida na quarentena: deslocamentos e aglomerações de pessoas em Fortaleza coletou informações sobre isolamento social das pessoas na cidade cearense.
A pesquisa, realizada por meio de um questionário on-line no período de 8 a 11 de abril, reuniu 1.977 respostas em 120 bairros da Capital. Foram feitas perguntas relacionadas à percepção do isolamento social (se o entrevistado e os vizinhos estão respeitando a quarentena) e a situações que geram aglomeração e deslocamentos para o trabalho.
Os pesquisadores constataram maior aglomeração em bairros de baixa renda, sendo mais frequente naqueles localizados nas Regionais 3 e 5 de Fortaleza, onde foram identificadas aglomerações de pessoas em casas lotéricas, supermercados e em calçadas e bares. Também são de regionais que agregam os bairros com menores rendas as pessoas que precisam continuar trabalhando neste período de quarentena.
“Pelo nosso questionário, a gente percebeu, agrupando também os bairros por IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], que, quanto menor o IDH, maior [a quantidade de] aglomerações. E isso é preocupante porque Fortaleza está com a COVID-19 disseminada. A cada semana [o número de casos] aumenta sensivelmente e aumentou para a periferia, com alta taxa de letalidade, o que faz mais ainda necessária a questão do isolamento social”, destaca a Profª Danyelle Nillin, uma das coordenadoras do estudo.
Ela explica que o relatório aponta análises parciais e que o grupo está trabalhando para ampliar as análises, a partir de cruzamento de dados e elaboração de gráficos. O questionário faz parte ainda de duas investigações maiores: uma sobre deslocamento e mobilidade urbana, coordenada pelo Prof. Irapuan Peixoto; e outra que pretende analisar a vida durante este momento de pandemia, coordenada pela docente.
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO – A população da capital cearense foi ouvida também pelo Departamento de Geografia da UFC, que realizou um Mapeamento participativo da COVID-19 em Fortaleza. A partir de um questionário eletrônico respondido no período de 8 a 10 de abril, as pessoas puderam informar se há casos suspeitos ou confirmados de coronavírus em suas casas, se estão cumprindo o isolamento social e se consideram necessárias as medidas de prevenção à doença.
A partir da análise de 12 mil respostas, os pesquisadores puderam mapear os bairros com maiores taxas de casos suspeitos ou confirmados da COVID-19 em Fortaleza no período mencionado e conhecer a opinião das pessoas sobre o isolamento social. Apesar de 97,5% das respostas considerarem o isolamento social como medida importante de enfrentamento do coronavírus, 31% dos voluntários que preencheram o questionário afirmaram que não cumprem tal medida.
“As principais motivações para as pessoas não cumprirem o isolamento social em Fortaleza são: realizar atividades remuneradas (trabalho formal ou informal), comprar alimentos, remédios e pagar contas, além de não considerar o isolamento importante para conter a COVID-19”, revela a pesquisa.
Os resultados parciais já foram transformados em um artigo, aceito para publicação no Journal of Latin American Geography (JLAG). Coordenada pelas professoras Adryane Gorayeb e Maria Elisa Zanella, a pesquisa permanece com o questionário aberto às respostas.
O grupo está coletando também informações sobre casos suspeitos e confirmados da COVID-19 em moradores da região metropolitana de Fortaleza e de comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos, extrativistas, pesqueiros e povos afins) da região metropolitana de Fortaleza.
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Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC ‒ e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.