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Veja alguns dos principais pontos da pesquisa

SAÚDE MENTAL – Analisadas as informações colhidas por meio das entrevistas,  ficou evidenciada  que a violência doméstica  afeta a saúde mental e o bem-estar  das mulheres, assim como sua satisfação com o emprego, autonomia financeira, acesso ao mercado de trabalho e absenteísmo. Violência doméstica, portanto, deteriora a produtividade e a capacidade laborativa da mulher.

Depois de tabulados os dados, a pesquisa constatou que em Teresina (PI) 48% das mulheres vítimas de violência doméstica dizem ter a saúde mental afetada pelo comportamento violento do parceiro. As proporções em Aracaju e Natal são de 42% e 40%, respectivamente, e em Fortaleza, 38% das mulheres são afetadas. Nas demais capitais, os percentuais são os seguintes: Salvador, Maceió e Recife (35%); João Pessoa (29%) e São Luís (27%). Vale salientar que essas proporções podem ser ainda maiores, pois parte das mulheres que foram vitimadas pelo parceiro e que responderam não ter sua saúde mental afetada até a data das entrevistas poderá apresentar sequelas no futuro.

Os resultados mostram, também, que as mulheres vítimas de violência nos últimos 12 meses  se ressentem de capacidade de concentração, de dificuldade em dormir bem, em tomar decisões e dizem se sentir frequentemente estressadas.

INSATISFAÇÃO – Entre as mulheres que não sofreram violência doméstica nos últimos 12 meses, a proporção das que estão muito ou extremamente satisfeitas com o atual emprego é de 43%. Já entre as mulheres vitimadas por seus parceiros, a proporção cai para 33,3%. Em outras palavras, a satisfação  com o emprego atual é menor entre as vítimas.

Outro aspecto relevante que pode estar diretamente relacionado à perda de satisfação com o emprego é a falta de autonomia da mulher vítima de violência com relação à sua renda pessoal. Aproximadamente 17% das vítimas de violência nos últimos 12 meses dizem que repassam parte ou a totalidade dos seus rendimentos para os parceiros.

PERDA DE AUTONOMIA – Mais reveladora é a situação em que a mulher tem seu acesso ao mercado de trabalho restringido por causa do parceiro, mostrando como ela perde autonomia. Observa-se que 23% das mulheres vítimas de violência doméstica afirmam ter recusado ou desistido de alguma oportunidade de emprego porque o parceiro era contra. Enquanto isso, 10% das mulheres que não são vítimas de violência dizem que recusaram emprego. Para o Prof. José Raimundo Carvalho, “esse resultado fornece ainda mais respaldo à hipótese de que a violência doméstica deteriora a autonomia da mulher”.

FALTAS  – Questionadas se o comportamento violento dos parceiros  interferia em seus trabalhos ou em outra atividade remunerada, as mulheres responderam que “sim” e o quadro ficou da seguinte maneira: em Salvador (22%); Teresina (20%); Fortaleza (18%); Natal (17)%; Maceió (16%); João Pessoa e São Luis (14%); Aracaju (13%) e Recife (11%).

Uma das consequências da interferência da violência doméstica no emprego das mulheres revela-se, por exemplo, no número de dias em que elas faltam ao trabalho. Em média, as  que sofrem violência faltaram 18 dias  nos últimos 12 meses. Os percentuais são os seguintes: 47% das vítimas perderam de 1 a 3 dias; 22% de 4 a 7 dias; 20% de 8 a 29 dias e 12% perderam 30 dias ou mais de trabalho.

Segundo a pesquisa, 12,5% das mulheres empregadas nas capitais nordestinas, ou seja, 219.109, sofreram algum tipo de violência doméstica nos últimos 12 meses. Nesse grupo, aproximadamente 25% das mulheres dizem ter perdido pelo menos um dia de trabalho, ou seja, 54.777 mulheres. Logo, o número de dias não trabalhados, levando-se em conta a média de 18 dias, totaliza 985.986 dias, ou quase 7,9 milhões de horas perdidas de trabalho.

Considerando-se  o valor do salário-hora entre as mulheres vítimas da violência doméstica em R$8,16 (valores nominais de 2016) e  uma jornada de 8 horas de trabalho/dia, chega-se ao valor de aproximadamente R$64,4 milhões da massa salarial perdida em decorrência do absenteísmo gerado pela violência doméstica, nas capitais do Nordeste brasileiro.

PARADOXO – Análise feita com base na pesquisa mostra que a probabilidade da mulher que sofre violência estar empregada é igual à probabilidade da que não sofreu violência, o que poderia minimizar a questão da violência. No entanto, é apenas um aparente paradoxo, alerta o Prof. José Raimundo. Apesar da violência doméstica impactar de maneira negativa na produtividade da mulher, o fato dela continuar em uma relação abusiva fornece um incentivo poderoso para tentar sair dessa situação, por meio da melhoria nas condições econômicas, explica o coordenador da pesquisa.

TEMPO NO EMPREGO –  A pesquisa forneceu dados para que fosse feita análise da duração de emprego das mulheres vítimas e das não-vítimas. Enquanto a duração média do emprego para as mulheres que não sofrem violência é de 74,82 meses, a duração média no emprego para as que sofrem violência é de 58,59 meses, uma queda de 22%. Esse custo da violência doméstica para as mulheres, até então desconhecido, se revela de forma clara, admite o pesquisador.

Menor duração no emprego significa que as vítimas de violência doméstica terão a capacidade econômica diminuída, enfraquecendo sua capacidade de empoderamento dentro do domicílio e aumentando sua dependência em relação ao parceiro.

Um dado chama atenção: para a região Nordeste como um todo, mulheres vítimas de violência doméstica apresentam uma duração média de desemprego 21% menor do que a duração daquelas que não sofrem violência. Uma tentativa de justificar menores durações de desemprego para vítimas de violência doméstica seria, novamente, os incentivos de voltar a ter uma relação de trabalho e uma renda para se proteger de uma relação abusiva.

As  vítimas da violência doméstica parecem reconhecer, claramente, a dupla vantagem de trabalhar em expediente integral, tanto para aumentar a renda como para diminuir sua presença em casa, no intuito de minimizar o número de episódios de violência doméstica.

NEGRAS x BRANCAS –  A questão étnica no Brasil, principalmente no que tange à discriminação salarial, aparece com intensidade dentro da análise da pesquisa, informa o Prof. José Raimundo. Sem surpresa, os menores salários se localizam no grupo de mulheres negras vítimas de violência, enquanto os maiores salários estão no grupo das mulheres brancas que não sofrem violência.

Chama atenção o fato de mulheres brancas que sofrem violência doméstica ainda assim receberem um salário maior que mulheres negras não vitimadas por esse tipo de violência.

GRUPOS DE OCUPAÇÃO – Segundo dados obtidos na pesquisa, as ocupações  com maior prevalência de violência doméstica são:

1) trabalhadoras nos serviços de embelezamento e cuidados pessoais - cabeleireira, cuidadora de idosos, auxiliar de lavanderia (26%);

2) vendedoras e demonstradoras – atendentes de lojas e mercados, frentista, balconista (23%);

3) trabalhadoras de informação ao público – operadora de telemarketing, telefonista, recepcionista (21%);

4) trabalhadoras dos serviços domésticos em geral – empregada doméstica, diarista (16%);

5) trabalhadoras dos serviços de hotelaria e alimentação – cozinheira, garçonete, copeira (15%);

6) escriturárias em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos – assistente administrativa, auxiliar de escritório (12%);

7) trabalhadoras nos serviços de administração, conservação e manutenção de edifícios e logradouros  – limpadora de piscina, faxineira, varredora de rua (12%);

8) caixas, bilheteiras e afins – operadora de caixa, cobradoras e afins (5%);

9) gerentes de produção e operações – gerente de produtos bancários, gerente de lojas e supermercados (5%);

10) técnicas da ciência da saúde humana  – técnica de enfermagem, esteticista (4%);

11) outras ocupações (31%).

CONSIDERAÇÕES  & SUGESTÕES – A violência doméstica, além de ser um problema grave de negação de direitos humanos fundamentais e de saúde pública, produz impactos negativos na capacidade dessas vítimas atuarem, de maneira produtiva e plena, no mercado de trabalho. Impacta, também, negativamente em várias dimensões relacionadas à capacidade laboral e produtividade. Todos esses efeitos custam muito caro, não somente às mulheres vítimas, mas também à economia do País, com reflexos nos setores público e privado.

Diante dessas evidências, os realizadores da pesquisa sugerem  iniciativas  nas áreas pública e privada. A primeira seria a aprovação do Projeto de Lei nº296/2013, que cria o auxílio-transitório decorrente de risco social provocado por situação de violência doméstica e familiar contra a mulher. A segunda seria a implementação de políticas de recursos humanos (existem algumas poucas ações, como a da Amêndoas do Brasil, em Fortaleza) com um foco maior nas questões de gênero, envolvendo iniciativas de empoderamento e suporte às suas funcionárias em situação de violência doméstica.

A apresentação da pesquisa contou com a presença do Prof. Manuel Andrade Furtado Neto, Pró-Reitor de Assuntos Estudantis no exercício da Reitoria. Ele destacou a satisfação da UFC em poder contribuir, por meio de um de seus pesquisadores (e com a parceria tão significativa do Instituto Maria da Penha), na busca de soluções para problema tão grave como o da violência contra a mulher.

Fonte: Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDFMulher) - Violência Doméstica e seu Impacto no Mercado de Trabalho e na Produtividade das Mulheres com a Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da Universidade Federal do Ceará  - fones 85 3366 7331 3366 7938

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